sábado, 7 de dezembro de 2019

O que a Tecnologia da Informação tem a ver com o aquecimento global?

Saudações Ecológicas!


Acredito que todos que visitam este blog já tenham ouvido falar no famigerado aquecimento global. 

Para que não permaneçamos no senso comum, devemos compreender que tanto o aquecimento global quanto o efeito estufa são processos naturais sem os quais a vida na Terra simplesmente não existiria. Nosso planeta encontra-se naquilo que os astrônomos e astrofísicos chamam de "zona habitável" de um sistema planetário, onde a incidência de radiação proveniente da estrela principal (no nosso caso, do Sol) permite a existência de água em estado líquido, fundamental para o desenvolvimento da vida como a conhecemos. Ademais, a estrutura do nosso planeta, dotada de uma inclinação axial média de 23,1º e de uma atmosfera recheada por gases de efeito estufa (perfluorcarbonetos, óxido nitroso, ozônio, vapor de água, metano, dióxido de carbono, dentre outros), possibilita que boa parte da energia proveniente do Sol permaneça retida em nosso planeta, permitindo que todos os seres vivos possam extrair dessa energia subsídios fundamentais para a atividade vital (vide a fotossíntese, por exemplo). O aquecimento global é tão natural que até nosso vizinho Vênus é classificado como o planeta mais quente do Sistema Solar justamente por possuir uma atmosfera densa e uma quantidade muito grande de gases de efeito estufa (provenientes sobretudo das inúmeras erupções vulcânicas), o que o faz apresentar temperaturas médias de 450 ºC.



Então, para quê se preocupar? Se o aquecimento global e o efeito estufa são naturais, então nós não temos nada a ver com isso, correto? Errado.

Senta que lá vem história!

O fenômeno do aquecimento global já ocorreu em outros períodos da história da Terra, e por isso muitos cientistas demoraram a aceitar que o atual aumento de temperatura pudesse ser causado unicamente pelas atividades humanas. Apesar de o aumento na concentração de dióxido de carbono (maior responsável pelo efeito estufa) ser constante, desde o início da industrialização no século XIX, alguns defendem a tese de que a relação entre esse aumento e a elevação da temperatura pode não ser tão direta. Lopes (2006) explica que um estudo publicado na Revista Science no ano de 2000 aponta que os fatores naturais, como erupções vulcânicas ou variações na intensidade da radiação solar que chega à Terra, seriam responsáveis por cerca de 25% da variação total de temperatura no século XX.

Indo na contramão deste entendimento, o químico norte-americano Charles David Keeling (1928-2005) foi um dos poucos estudiosos que dedicou sua vida profissional à medição dos níveis de gás carbônico no ambiente. Seus estudos tiveram início em 1954, quando desejou saber se a pressão de um gás como o CO2 era a mesma no ar e na água. Na busca da resposta, ele aperfeiçoou o aparelho usado para fazer esse tipo de medida e analisou amostras de ar e de oceanos em diferentes regiões da Terra, e em diferentes períodos do dia, durante alguns anos.

Keeling observou que em qualquer lugar onde as medições eram feitas a concentração de CO2 era aproximadamente a mesma, em torno de 315 partes por milhão (ppm). Esse era um valor médio, pois ao longo do dia o valor exato apresentava variações, atingindo um valor máximo durante a madrugada e mínimo pouco depois do meio-dia. O padrão de variações também era o mesmo para todas as regiões que ele analisou.

As variações no teor de dióxido de carbono atmosférico ao longo do dia estão relacionadas com o metabolismo dos seres clorofilados: eles captam CO2 no processo de fotossíntese e liberam esse gás na respiração. As algas e as plantas realizam fotossíntese durante o período iluminado, e a taxa de trocas gasosas é maior do que a que se verifica durante a respiração, que ocorre constantemente, dia e noite. Assim, a concentração de CO2 no ar diminui nos períodos mais iluminados do dia (quando a fotossíntese é mais intensa) e aumenta durante a madrugada, quando plantas e algas estão respirando na maior parte do tempo.

Em 1957, Charles Keeling ajudou a implantar um sistema de monitoramento da concentração dos gases atmosféricos em todo o planeta. Bases de pesquisa foram instaladas e as leituras diárias de concentração de CO2 tiveram início no ano seguinte. No início, alguns problemas técnicos comprometeram a obtenção de certas medidas, mas a partir de 1964 elas passaram a ser feitas ininterruptamente, até os dias atuais.

A representação gráfica desses resultados é conhecida como Curva de Keeling, em homenagem ao trabalho desse grande cientista. A Curva de Keeling mostra os seguintes dados sobre as condições da atmosfera atual.



Keeling e outros cientistas investigaram os fatores que explicariam o caráter ascendente desta Curva. Entre os fatores estão: o desmatamento, a emissão de CO2 pela queima de combustíveis fósseis e o fato de que o oceano não é capaz de absorver todo o CO2 lançado na atmosfera, como se pensava há algumas décadas. Ou seja, a maior responsabilidade pelo aquecimento global parece ser mesmo dos seres humanos e do seu estilo de vida atual.

Conforme já citado neste blog, em 2018 os níveis de CO2 atingiram, pelo quarto ano seguido, as maiores médias da história da humanidade. Em 2019, as emissões deste gás ficaram abaixo do esperado (crescendo apenas 0,6%) mas, mesmo assim, o número bruto é alarmante: até o final do ano, 37 bilhões de toneladas de dióxido de carbono provenientes de atividades antrópicas serão lançados na atmosfera.

"Certo, Lucas. Muito interessante. Mas onde cazzo entra a TI nisso?"

Calma, jovem. Explicá-lo(a)-ei.

Apresento-lhes a matriz elétrica mundial fornecida em 2016 pela International Energy Agency (IEA)!


A matriz elétrica mundial é formada pelo conjunto de fontes disponíveis para a geração de energia elétrica em todo o globo. Como vocês sabem, precisamos de energia elétrica para assistir televisão, ouvir rádio, acender a luz, ligar nossa geladeira, carregar nosso celular, conectar o dispositivo de Wi-Fi, utilizar nossos computadores, imprimir documentos, etc.

Diferentemente da matriz brasileira, cuja primazia da energia hidráulica representa o uso de uma fonte mais ou menos renovável e limpa, a matriz elétrica mundial é composta principalmente por combustíveis fósseis  como carvão, óleo e gás natural – processados em termelétricas. E, como vocês acabaram de ler nesta postagem, a queima de combustíveis fósseis é uma das principais causas da emissão desordenada de dióxido de carbono na atmosfera do nosso planeta.

"Lucas, ainda tou esperando a parte da TI nisso tudo. Para de enrolar, velho".

Tá bom, impaciente.

Em 2018, o consumo de energia procedente das Tecnologias de Informação representou cerca 3,7% (equivalente a 830 milhões de toneladas) das emissões globais dos gases de efeito estufa. Não bastasse esse número - que não é pequeno -, o ritmo do gasto segue crescendo a passos largos. A cada ano, 9% a mais de energia vinculada às Tecnologias de Informação é despendida. Apenas a título de comparação, a indústria aeronáutica emite anualmente, em média, cerca de 2% desses mesmos gases, 1,7% a menos do que os serviços de TI!

A informação é resultante dos dados recorrentemente publicados no site do The Shift Project, uma organização francesa sem fins lucrativos criada em 2010 que objetiva auxiliar a reduzir as mudanças climáticas e a nossa dependência dos combustíveis fósseis.

Para a entidade, a digitalização cada vez mais crescente das informações tem um papel decisivo no aumento da pegada de carbono oriunda da energia gasta nas Tecnologias de Informação. O grupo ainda alerta para o fato de que a miniaturização dos componentes de informática levam as pessoas a não perceberem o impacto que essas peças podem ter sobre o meio ambiente quando descartadas de forma incorreta.

Confiram o gráfico abaixo. Ele não é do The Shift Project mas da tese de doutorado de Hayri Acar, datada de 2017. 


O gráfico mostra que a demanda no consumo elétrico usado para alimentar a infraestrutura de TI, tem crescido a tal ponto que o prognóstico para 2020 é de atingir cerca de 60% a mais do que era consumido em 2007.  Ou seja: mais consumo de eletricidade, mais consumo de energia, mais emissões de gases de efeito estufa (principalmente CO2), maior o aquecimento global. Para se ter ideia, um computador (apenas um computador) funcionando somente uma hora por dia utiliza 5 kWh por mês, contribuindo, ao final de um ano, com a emissão de 18 kg de dióxido de carbono (BRAYNER; RAMOS; BRAYNER, 2013).

Voltando ao The Shift Project, das pesquisas desenvolvidas pela organização quatro considerações finais foram definidas.

1) A intensidade energética da indústria de TI está crescendo cerca de 4% ao ano em todo o mundo, ao passo que a tendência global é de declínio de 1,8% por ano;

2) A tendência de consumo excessivo de TI não é sustentável por conta da energia e das matérias-primas necessárias para a produção e operação desses equipamentos;

3) Ao comparar a atual situação dos diversos povos, percebe-se que o consumo de TI é desigual. Exemplificando: o estadunidense médio, em 2018, possuía em torno de 10 dispositivos conectados e consumia, mensalmente, 140 gigabytes de dados; já o indiano dispunha de apenas 1 dispositivo conectado e empregava 2 gigabytes de dados mensais. O que isso evidencia? Que o desequilíbrio na distribuição de riquezas entre as nações aponta para os países mais desenvolvidos como responsáveis no consumo cada vez mais crescente e desordenado de energia elétrica. 

4) Apesar desse quadro, o impacto ambiental causado pelas Tecnologias de Informação pode ser contornado se o consumo for moderado. Se alterarmos nossa relação com a TI, do ímpeto consumista à utilização comedida, será possível limitar o aumento do consumo de energia elétrica em, no mínimo, 1,5% por ano. 

Pequenas atitudes fazem toda diferença. Por exemplo:

- Buscar fornecedores de TI que sejam sustentáveis;
- Modernizar a infraestrutura dos datacenters visando economia de energia;
- Desligar os computadores após o término do expediente ou da aula;
- Utilizar servidores em nuvem;
- Avaliar o layout físico do datacenter para melhor circulação do ar;
- Automatizar o sistema de resfriamento do datacenter;
- Utilizar energias renováveis;
- Evitar compras desnecessárias em TI;
- Consolidar ou virtualizar os servidores;
- Verificar se o ar-condicionado está devidamente regulado ao datacenter;
- Diminuir o brilho dos monitores; 
- Consolidar os desktops;
- Preferir monitores LCD em invés de CRT;
- Programar monitores para desligarem após o ciclo de atividades;
- Utilizar thin clients
- Gerenciar o consumo de energia em TI através de sofwares;
- Utilizar equipamentos que possuam "selos verdes", tipo o Energy Star ou a PROCEL;
- Substituir desktops por laptops;
- Consolidar as impressoras;
- Preferir utilizar "sites verdes", com cores mais leves, que diminuem o consumo de Watts;
- etc, etc, etc.


Há uma infinidade de ações que podem ser tomadas. Basta você querer e lembrar que, do ponto de vista climático, não deve ser interessante viver em uma Terra, digamos, "venusiana". Concorda? :)
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REFERÊNCIAS

ACAR, H. Software development methodology in a Green IT environmentLyon, f. 1202017. Tese (Spécialité de doctorat: Informatique) – UNIVERSITÉ DE LYON2017.

BRAYNER, F.L.A.; RAMOS; P.G.S.; BRAYNER, P.V.A. TI Verde: sustentabilidade na área da tecnologia da informação. In: ONEG.M.C. (Org.)ALBUQUERQUE, H.N. (Org.)Saúde e meio ambienteinteragindo à serviço da vidaJoão PessoaGráfica Impressos2013621 p. cap. 6, p. 64-71.

LOPES, S. Bio. 1. Ed. 3. Vol. São Paulo: Saraiva, 2006. 464p.

sábado, 16 de novembro de 2019

Minérios de conflito: o que são?

"Pode ser que duas crianças tenham morrido para você ter seu telefone celular!" (Jean-Bertin Nadonye, sacerdote e ativista congolense)




Saudações Ecológicas!

Quem esteve na oficina que ofertei em 14 de agosto, ou na palestra que proferi em 30 de agosto, ou no minicurso que ministrei em 24 de outubro, ou que tenha lido esta postagem do dia 7 de setembro, deve lembrar que eu citei um negócio chamado "minérios de conflito".

Certo...mas o que são eles e qual a relevância social deste assunto dentro do universo da TI Verde? Vamos tentar compreender.

Antes de tudo, devemos entender que quando falamos de TI Verde, estamos falando de Sustentabilidade e quando falamos de Sustentabilidade estamos falando de pelo menos um dos três pilares fundamentais do desenvolvimento sustentável denominados Tripple Bottom Line. Este conceito, desenvolvido principalmente por John Elkington em sua obra magna denominada "Sustentabilidade: canibais com garfo e faca", explica que o desenvolvimento sustentável corresponde - conforme a figura abaixo - à interseção de três grandes elementos: 1) a justiça social; 2) a proteção ao meio ambiente; 3) o desenvolvimento econômico.



Portanto, quando tratamos de temas sociais vinculados ao meio ambiente nós estamos atendendo a um dos pilares do Tripple Bottom Line (justiça social) e, consequentemente, estamos discutindo Sustentabilidade. É o caso dos minérios de conflito.

Tântalo (Ta), estanho (Sn), tungstênio (W) e ouro (Au). Mais conhecidos como 3TG (do inglês Tantalum, Tin, Tungsten e Gold), esses quatro minerais estão fortemente presentes em aparelhos eletrônicos.

O tântalo, encontrado no mineral tantalita, é considerado o rei da era digital, sendo vastamente utilizado em capacitores para armazenamento e regulação de carga elétrica. Sem o tântalo não haveria armazenamento de energia nas baterias e, por conseguinte, não haveria celulares, notebooks e tablets. Cada celular possui, em média, 40 miligramas de tântalo em seu interior. Também é utilizado em aparelhos de surdez, implantes, soldas para turbinas, videogames, marca-passos, sistemas ABS e Airbag para veículos, câmeras digitais, videogames, dentre outros. É um metal raro que apresenta um alto ponto de fusão, sendo extremamente resistente à corrosão.

Tântalo (Ta)
O estanho, utilizado para produzir diversas ligas metálicas com a função de cobrir outros metais e protegê-los da corrosão, também é um metal presente no contexto hodierno. Obtido principalmente no mineral cassiterita, sua presença em soldas é de fundamental importância para os circuitos elétricos e eletrônicos integrados.

Estanho (Sn)

O tungstênio, encontrado na natureza combinado com outro elementos, é utilizado na indústria eletrônica, petrolífera e de construção, sendo empregado na fabricação de filamentos de lâmpadas, telefones celulares, relógios, tubos de raios catódicos, nas canetas esferográficas (aquela bolinha das canetas esferográficas é feita de tungstênio), dentre outros. O metal, também conhecido como wolfrâmio (por isso seu símbolo na tabela periódica é o W), é extraído de minérios de alto valor agregado como a wolframita, a scheelita e a cassiterita. Sua principal característica é a capacidade de resistir a temperaturas elevadas, o que o leva a possuir um considerável valor industrial nos mercados de importação e exportação.

Tungstênio (W) em wolframita
O ouro, um dos metais mais desejados do mercado e de alto valor simbólico de luxo e poder, está presente no cotidiano em diversos setores. Na indústria eletrônica é utilizado como condutor de eletricidade, laminados de placas de computadores, telefones celulares, televisores de tela plana e câmeras. Devido ao seu alto custo, os produtores acabam por combiná-los com outros metais fazendo ligas de ferro, níquel e sais de cobalto. Cada celular possui 0,03 gramas de ouro em seu revestimento, o que equivale cerca de US$1,00 (um dólar). No computador, sua presença representa 0,016% em relação ao peso total da máquina, sendo 98% dele passível de ser reciclado.


Ouro (Au)
A África Central, sobretudo a República Democrática do Congo (RDC), detém 80% das reservas mundiais desses minerais. O que poderia ser uma benção - haja vista que essa região é composta por países em condição de extrema pobreza -, acabou tornando-se uma maldição. A desumana combinação composta por elementos como a histórica colonização escravista, a omissão das grandes potências econômicas, a  necessidade humana de subsistência, os governos autoritários regionais e a contínua ganância pelo poder conduziram a morte de pelo menos 5 milhões dos nossos irmãos africanos em conflitos por esses minérios. Desde o final da década de 1990, com o aumento na demanda por aparelhos de Tecnologia da Informação, a África Central sofre o derramamento de sangue simplesmente por ser o principal berço dos minérios mais fundamentais à existência dessa indústria.

Os minérios em questão provêm de minas controladas ilegalmente por tropas governamentais e das milícias armadas. Estas tropas e milícias usam os grandes lucros, derivados das minas, para fomentar os seus próprios planos e perpetuar a guerra através da compra de armas. Além disso, são responsáveis por algumas das piores atrocidades contra a humanidade e por graves violações de direitos humanos, inclusive o estupro (nos últimos 15 anos foram mais de 300 mil mulheres abusadas), chacinas e trabalho infantil. As condições de trabalho beiram a escravidão. Os civis das comunidades de mineração locais são forçados a participar deste comércio de mineração ilegal. Esta situação exerce um impacto sobre a parte legítima deste setor comercial importante, que é fundamental para a sustentabilidade da economia da RDC e para a proteção do seu povo.

Os minerais obtidos destas minas são, então, levados para fora da RDC por contrabando através dos países vizinhos como Uganda e Ruanda, a partir dos quais são exportados para o Extremo Oriente e fundidos com minerais provenientes de todo o mundo. Depois que os minerais são, digamos, "refinados" deste modo, é muito difícil localizar sua origem, Os minérios de conflito, portanto, chegam facilmente aos produtos dos consumidores em todo o mundo, podendo ser encontrados em todos os nossos dispositivos eletrônicos, incluindo telefones celulares, computadores de mesa, notebooks, tablets, etc.

A República Democrática do Congo e outros países da África Central possuem riquezas naturais igualmente contrabandeadas como, por exemplo, o cobre, o cobalto, madeiras preciosas e diamantes. No entanto, o Índice de Desenvolvimento Humano da localidade aponta para as últimas posições. Neste cenário, as denúncias da sociedade civil organizada apelam cada vez mais aos consumidores de produtos que contêm estes materiais. Na Espanha, a Rede de Entidades para a República Democrática do Congo - uma associação de organizações não governamentais e centros de pesquisa - lançou, em fevereiro de 2012, uma campanha para exigir dos fabricantes de elétricos e eletrônicos o compromisso em não usarem minérios de conflito em seus produtos. Como já discutido neste blog em postagem anterior, um excelente exemplo de compromisso ético em deliberadamente não utilizar minérios de zonas conflituosas em seus aparelhos, é o da Fairphone.

Em julho 2010, o congresso dos Estados Unidos estabeleceu a lei Dodd-Frank de Proteção ao Consumidor e Reforma da Wall Street. Nela, há uma disposição (seção 1502) cujo objetivo primacial é impedir que o exército nacional e grupos rebeldes na República Democrática do Congo utilizem ilegalmente os lucros obtidos do comércio de minerais para financiar mais conflitos.

Essa lei implicou em um grande embargo à exportação dos minérios em pauta. Como já explicado anteriormente, o derramamento de sangue devido à atividade ilegal da mineração acaba afetando atividades econômicas similares e legais que ocorrem na RDC e em países adjacentes. Mas, não havendo nenhum mecanismo de certificação para provar que nem todos os minérios exportados não financiavam a barbárie, a abrupta interrupção da atividade produziu um efeito oposto ao esperado. Alguns trabalhadores se alistaram em grupos armados depois de terem perdido o emprego. Desde então, mecanismos e estruturas estão sendo implantados para colocar selo nos minerais que não possuem relação com atividades criminosas.

É necessário comprovar que a mina não é controlada por grupos armados e que nela não trabalham crianças, mulheres ou qualquer ser humano em condição similar à escravidão. O governo local tem que chegar até a mina com o material de certificação para proceder com os as ações legais. O acesso íngreme às minas e o conflito tornam a tarefa uma verdadeira atividade hercúlea. Desde 2011, apenas 140 das aproximadamente 5000 minas conseguiram a certificação.

Na União Europeia, por sua vez, são cerca de 88.000 empresas que utilizam ouro, tungstênio, tântalo e estanho na produção de bens de consumo. Ou seja, possíveis minerais cuja origem pode estar relacionada às guerras e mortes supracitadas. No entanto, o Parlamento Europeu ainda está debatendo se os regula e, se sim, como regular. Até o momento, nenhuma ação foi tomada.

As decisões a respeito dos minérios de conflito flutuam conforme o ritmo do mercado internacional. Apesar de os congoleses serem os atores principais do processo, suas vozes geralmente não são ouvidas. As decisões sobre o futuro do país e de nações vizinhas quase sempre vêm de muito longe, sem buscar entender a realidade das pessoas que trabalham para que o mundo tecnológico continue em seu tão decantado "progresso".

Para finalizar, deixo-lhes como reflexão um trecho do artigo de Ricardo Antunes e Giovanni Alves intitulado "As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital".

"Contrariamente à interpretação que vê a transformação tecnológica movendo-se em direção à idade de ouro de um capitalismo saneado, próspero e harmonioso, estamos presenciando um processo histórico de desintegração, que se dirige para um aumento do antagonismo, o aprofundamento das contradições do capital. Quanto mais o sistema tecnológico de automação e das novas formas de organização do trabalho avança, mais a alienação tende em direção a limites absolutos.
[...]
A desumanização segregadora leva ao isolamento individual, às formas de criminalidade, à formação de guetos de setores excluídos, até a formas mais ousadas de explosão social que, entretanto, não podem ser vistas meramente em termos de coesão social da sociedade como tal, isoladas da forma de produção capitalista (que é produção de valor e de mais-valor)."

Quer saber mais sobre os minérios de conflito? Assista:




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domingo, 3 de novembro de 2019

Medalhas das Olimpíadas de Tóquio 2020 foram feitas de metais provenientes de lixo eletrônico

Não, você não leu errado. É isso mesmo!


Saudações Ecológicas!

Segundo o relatório Global e-waste Monitor, publicado em 2017 pela United Nations University, a humanidade produz anualmente cerca de 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico. Isso equivale a praticamente 4.500 Torres Eiffel! 

Desse montante, apenas 20% passa pelo correto processo descarte enquanto 80% ou não é documentado ou é descartado de forma incorreta. 

Comparada a outros continentes, a Ásia tem uma situação peculiar em relação aos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE) uma vez que possui vários países em desenvolvimento ou já fortemente industrializados. Isso gera uma discrepância em relação aos demais continentes do mundo quanto ao lixo eletrônico. Das 44,7 milhões de toneladas de e-waste produzidas globalmente, 18,2 (equivalente a 40,7%) milhões são produzidas na Ásia, sendo o continente que mais produz REEE. Desse total, apenas 2,7 milhões de toneladas são recicladas corretamente. 

Dentre os países que mais produzem REEE no mundo, dois asiáticos compõem o pódio: a China, em primeiro lugar, com 7,1 milhões de toneladas produzidas; e o Japão, em terceiro lugar, com 2,1 milhões de toneladas produzidas.

Apesar de ocupar essa desagradável posição, o Japão possui uma sólida legislação quanto à produção, ao uso e ao descarte dos aparelhos eletrônicos, tendo sido um dos primeiros países do mundo a implementar um sistema baseado em responsabilidade estendida para o produtor, tal como temos aqui no Brasil através da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Nº 12.305/10). 

Visando atuar no sentido de diminuir a quantidade de e-waste produzida pelos seus habitantes e, ao mesmo tempo, promover a sustentabilidade em um evento mundial, em 2017 o Japão anunciou que, para as Olimpíadas de Tóquio 2020, as medalhas entregues aos atletas laureados nas competições seriam produzidas a partir do ouro, da prata e do bronze coletados a partir de REEE.

Proposta extremamente audaciosa...mas que deu certo!

Entre abril de 2017 e março de 2019, os japoneses mobilizaram-se para o descarte ecologicamente correto de seus aparelhos eletrônicos. Neste período, 78 toneladas de lixo eletrônico foram coletadas. Os smartphones, principal categoria de equipamentos descartados, compuseram um total de 7 milhões de unidades.

Do material coletado, foram extraídos 32 kg de ouro, 3,5 toneladas de prata e 2,5 toneladas de bronze. Talvez devamos repensar o uso do termo lixo eletrônico.

Confiram como as medalhas ficaram!




sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Minicurso sobre Tecnologia da Informação e Sustentabilidade foi um sucesso!

Saudações Ecológicas!

Na manhã do dia 24 de outubro, o Campus Socorro do Instituto Federal de Sergipe realizou palestras, oficinas e minicursos em alusão à Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). No ano de 2019, a SNCT teve como tema "Bioeconomia: Diversidade e Riqueza para o Desenvolvimento Sustentável".

Atendendo ao contexto trazido pela temática, ministrei aos alunos dos Campus o minicurso "Tecnologia da Informação e Sustentabilidade: um olhar a partir dos 7 R's". Na atividade, pude apresentar e discutir alguns conceitos e práticas da TI Verde delimitando-as aos princípios dos 7 R's da sustentabilidade ambiental: repensar, recusar, reduzir, reparar, reutilizar, reciclar e reintegrar. 

Considerando que no Campus Socorro o único curso em atividade é o técnico subsequente em Manutenção e Suporte em Informática, o conteúdo apresentado no minicurso, pela sua potencial transversalidade, reforça o compromisso do Instituto Federal de Sergipe em preparar profissionais omnilaterais, críticos, ativos, multiplicadores e responsáveis pelo ciclo humano da vida.

Confiram algumas fotos!












Ao final do curso, os alunos foram convidados a realizar duas atividades. Uma delas, os incentivou a aplicar o conhecimento construído no minicurso através do Kahoot!, uma plataforma de aprendizado baseada em jogos. A outra atividade foi uma rápida oficina sobre gerenciamento de energia elétrica que, infelizmente, não conseguimos registrá-las em fotos :( . Mas confiram, abaixo, as fotos da aplicação do Kahoot!.








Os três primeiros colocados foram contemplados com brindes sustentáveis da Repense Ecoloja!





O minicurso serviu também para divulgação das atividades que acontecerão na Semana de Informática do Campus Socorro em março de 2020. Na oportunidade, também estarei ministrando um curso de 8 horas sobre TI Verde para os alunos deste Campus. E, é claro, conto com a participação de todos!


Até lá!!

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Lucas Feitosa

Instagram do blog

quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Oportunidade! Curso sobre TI e Sustentabilidade no IFS campus Socorro

Saudações Ecológicas!

Como deve ser de conhecimento geral, dos dias 21 a 25 de outubro ocorrerá a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) no Instituto Federal de Sergipe. O evento multicampi reunirá palestras, oficinas, minicursos, apresentações de trabalho e uma série de outras atividades voltadas ao tema da SNCT 2019: "Bioeconomia: diversidade e riqueza para o desenvolvimento sustentável".
No entanto, no dia 24 de outubro, as ações serão centralizadas em cada campus. Em Socorro, o IFS também contará com minicursos, palestras e oficinas voltadas ao supracitado tema.

Puxando brasa à minha sardinha, este que vos fala estará ministrando o minicurso "Tecnologia da Informação e Sustentabilidade: um olhar a partir dos 7 R's". As vagas são limitadas e as inscrições podem ser realizadas em http://publicacoes.ifs.edu.br/index.php/eventos conforme as imagens abaixo.




Lhes vejo lá!

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Lixo eletrônico pode ajudar pessoas em situação de rua


Os fios, cabos, celulares quebrados, computadores e outros itens eletrônicos que não têm mais utilidade estão sendo utilizados há seis anos pelo projeto social Instituto Forte para ajudar na ressocialização de pessoas em situação de rua em Guarulhos, na Grande São Paulo. Através da reciclagem do lixo eletrônico, quem é assistido pelo projeto consegue não só alimentação, como emprego e renda. 

O voluntário Luiz Fernando de Paula explica que o grupo surgiu após membros da igreja Bola de Neve identificarem que a doação de alimento às pessoas em situação de rua não era suficiente. “Doávamos sopa e comidas, no projeto ‘Pão da Vida’, mas surgiu a ideia de acolher essas pessoas. Então, alugamos uma casa e montamos esse instituto”, relembra o voluntário em entrevista ao Terra durante a 12ª Brasil Game Show (BGS). 

Ainda de acordo com Luiz Fernando, após o acolhimento, o membro da casa inicia um processo de ressocialização. “Essas pessoas deixam o instituto com o emprego arrumado, uma casa alugada. Fazemos todo esse processo. O principal objetivo é reciclar vidas que por alguma situação chegaram a ficar em situação de rua, seja por droga, bebida ou qualquer outro motivo”, acrescenta. 

As doações, retiradas pelo próprio Instituto Forte, servem como emprego e ajudam a pagar os custos do centro de acolhimento, a arcar com a manutenção da casa e na alimentação de quem reside por lá. Quando o lixo eletrônico chega ao local, são os moradores quem separam o que vai ser vendido a empresas parceiras.

Atualmente, 18 pessoas vivem no local. Em seis anos de projeto, mais de 50 já foram reinseridas à sociedade. 

O interessado em fazer a doação de lixo eletrônico pode entrar em contato com o Instituto Forte pelo Facebook e Instagram. Assim, também é possível realizar o agendamento para a retirada da doação. 


Para a equipe, marcar presença na BGS é fundamental para que a casa cresça em número de moradores e em grupos de vulnerabilidade como mulheres e crianças. “A gente veio para a feira para expandir. Estamos querendo aumentar a casa e precisamos divulgar esse projeto para que mais pessoas doem a gente consiga ajudar ainda mais gente”, finaliza o voluntário.

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