Saudações Ecológicas!
Quem esteve na oficina que ofertei em 14 de agosto, ou na palestra que proferi em 30 de agosto, ou no minicurso que ministrei em 24 de outubro, ou que tenha lido esta postagem do dia 7 de setembro, deve lembrar que eu citei um negócio chamado "minérios de conflito".
Certo...mas o que são eles e qual a relevância social deste assunto dentro do universo da TI Verde? Vamos tentar compreender.
Antes de tudo, devemos entender que quando falamos de TI Verde, estamos falando de Sustentabilidade e quando falamos de Sustentabilidade estamos falando de pelo menos um dos três pilares fundamentais do desenvolvimento sustentável denominados Tripple Bottom Line. Este conceito, desenvolvido principalmente por John Elkington em sua obra magna denominada "Sustentabilidade: canibais com garfo e faca", explica que o desenvolvimento sustentável corresponde - conforme a figura abaixo - à interseção de três grandes elementos: 1) a justiça social; 2) a proteção ao meio ambiente; 3) o desenvolvimento econômico.
Portanto, quando tratamos de temas sociais vinculados ao meio ambiente nós estamos atendendo a um dos pilares do Tripple Bottom Line (justiça social) e, consequentemente, estamos discutindo Sustentabilidade. É o caso dos minérios de conflito.
Tântalo (Ta), estanho (Sn), tungstênio (W) e ouro (Au). Mais conhecidos como 3TG (do inglês Tantalum, Tin, Tungsten e Gold), esses quatro minerais estão fortemente presentes em aparelhos eletrônicos.
O tântalo, encontrado no mineral tantalita, é considerado o rei da era digital, sendo vastamente utilizado em capacitores para armazenamento e regulação de carga elétrica. Sem o tântalo não haveria armazenamento de energia nas baterias e, por conseguinte, não haveria celulares, notebooks e tablets. Cada celular possui, em média, 40 miligramas de tântalo em seu interior. Também é utilizado em aparelhos de surdez, implantes, soldas para turbinas, videogames, marca-passos, sistemas ABS e Airbag para veículos, câmeras digitais, videogames, dentre outros. É um metal raro que apresenta um alto ponto de fusão, sendo extremamente resistente à corrosão.
O estanho, utilizado para produzir diversas ligas metálicas com a função de cobrir outros metais e protegê-los da corrosão, também é um metal presente no contexto hodierno. Obtido principalmente no mineral cassiterita, sua presença em soldas é de fundamental importância para os circuitos elétricos e eletrônicos integrados.
O tungstênio, encontrado na natureza combinado com outro elementos, é utilizado na indústria eletrônica, petrolífera e de construção, sendo empregado na fabricação de filamentos de lâmpadas, telefones celulares, relógios, tubos de raios catódicos, nas canetas esferográficas (aquela bolinha das canetas esferográficas é feita de tungstênio), dentre outros. O metal, também conhecido como wolfrâmio (por isso seu símbolo na tabela periódica é o W), é extraído de minérios de alto valor agregado como a wolframita, a scheelita e a cassiterita. Sua principal característica é a capacidade de resistir a temperaturas elevadas, o que o leva a possuir um considerável valor industrial nos mercados de importação e exportação.
O ouro, um dos metais mais desejados do mercado e de alto valor simbólico de luxo e poder, está presente no cotidiano em diversos setores. Na indústria eletrônica é utilizado como condutor de eletricidade, laminados de placas de computadores, telefones celulares, televisores de tela plana e câmeras. Devido ao seu alto custo, os produtores acabam por combiná-los com outros metais fazendo ligas de ferro, níquel e sais de cobalto. Cada celular possui 0,03 gramas de ouro em seu revestimento, o que equivale cerca de US$1,00 (um dólar). No computador, sua presença representa 0,016% em relação ao peso total da máquina, sendo 98% dele passível de ser reciclado.
A África Central, sobretudo a República Democrática do Congo (RDC), detém 80% das reservas mundiais desses minerais. O que poderia ser uma benção - haja vista que essa região é composta por países em condição de extrema pobreza -, acabou tornando-se uma maldição. A desumana combinação composta por elementos como a histórica colonização escravista, a omissão das grandes potências econômicas, a necessidade humana de subsistência, os governos autoritários regionais e a contínua ganância pelo poder conduziram a morte de pelo menos 5 milhões dos nossos irmãos africanos em conflitos por esses minérios. Desde o final da década de 1990, com o aumento na demanda por aparelhos de Tecnologia da Informação, a África Central sofre o derramamento de sangue simplesmente por ser o principal berço dos minérios mais fundamentais à existência dessa indústria.
O tântalo, encontrado no mineral tantalita, é considerado o rei da era digital, sendo vastamente utilizado em capacitores para armazenamento e regulação de carga elétrica. Sem o tântalo não haveria armazenamento de energia nas baterias e, por conseguinte, não haveria celulares, notebooks e tablets. Cada celular possui, em média, 40 miligramas de tântalo em seu interior. Também é utilizado em aparelhos de surdez, implantes, soldas para turbinas, videogames, marca-passos, sistemas ABS e Airbag para veículos, câmeras digitais, videogames, dentre outros. É um metal raro que apresenta um alto ponto de fusão, sendo extremamente resistente à corrosão.
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Tântalo (Ta) |
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Estanho (Sn) |
O tungstênio, encontrado na natureza combinado com outro elementos, é utilizado na indústria eletrônica, petrolífera e de construção, sendo empregado na fabricação de filamentos de lâmpadas, telefones celulares, relógios, tubos de raios catódicos, nas canetas esferográficas (aquela bolinha das canetas esferográficas é feita de tungstênio), dentre outros. O metal, também conhecido como wolfrâmio (por isso seu símbolo na tabela periódica é o W), é extraído de minérios de alto valor agregado como a wolframita, a scheelita e a cassiterita. Sua principal característica é a capacidade de resistir a temperaturas elevadas, o que o leva a possuir um considerável valor industrial nos mercados de importação e exportação.
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Tungstênio (W) em wolframita |
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Ouro (Au) |


Os minerais obtidos destas minas são, então, levados para fora da RDC por contrabando através dos países vizinhos como Uganda e Ruanda, a partir dos quais são exportados para o Extremo Oriente e fundidos com minerais provenientes de todo o mundo. Depois que os minerais são, digamos, "refinados" deste modo, é muito difícil localizar sua origem, Os minérios de conflito, portanto, chegam facilmente aos produtos dos consumidores em todo o mundo, podendo ser encontrados em todos os nossos dispositivos eletrônicos, incluindo telefones celulares, computadores de mesa, notebooks, tablets, etc.
A República Democrática do Congo e outros países da África Central possuem riquezas naturais igualmente contrabandeadas como, por exemplo, o cobre, o cobalto, madeiras preciosas e diamantes. No entanto, o Índice de Desenvolvimento Humano da localidade aponta para as últimas posições. Neste cenário, as denúncias da sociedade civil organizada apelam cada vez mais aos consumidores de produtos que contêm estes materiais. Na Espanha, a Rede de Entidades para a República Democrática do Congo - uma associação de organizações não governamentais e centros de pesquisa - lançou, em fevereiro de 2012, uma campanha para exigir dos fabricantes de elétricos e eletrônicos o compromisso em não usarem minérios de conflito em seus produtos. Como já discutido neste blog em postagem anterior, um excelente exemplo de compromisso ético em deliberadamente não utilizar minérios de zonas conflituosas em seus aparelhos, é o da Fairphone.
Em julho 2010, o congresso dos Estados Unidos estabeleceu a lei Dodd-Frank de Proteção ao Consumidor e Reforma da Wall Street. Nela, há uma disposição (seção 1502) cujo objetivo primacial é impedir que o exército nacional e grupos rebeldes na República Democrática do Congo utilizem ilegalmente os lucros obtidos do comércio de minerais para financiar mais conflitos.
Essa lei implicou em um grande embargo à exportação dos minérios em pauta. Como já explicado anteriormente, o derramamento de sangue devido à atividade ilegal da mineração acaba afetando atividades econômicas similares e legais que ocorrem na RDC e em países adjacentes. Mas, não havendo nenhum mecanismo de certificação para provar que nem todos os minérios exportados não financiavam a barbárie, a abrupta interrupção da atividade produziu um efeito oposto ao esperado. Alguns trabalhadores se alistaram em grupos armados depois de terem perdido o emprego. Desde então, mecanismos e estruturas estão sendo implantados para colocar selo nos minerais que não possuem relação com atividades criminosas.
É necessário comprovar que a mina não é controlada por grupos armados e que nela não trabalham crianças, mulheres ou qualquer ser humano em condição similar à escravidão. O governo local tem que chegar até a mina com o material de certificação para proceder com os as ações legais. O acesso íngreme às minas e o conflito tornam a tarefa uma verdadeira atividade hercúlea. Desde 2011, apenas 140 das aproximadamente 5000 minas conseguiram a certificação.
Na União Europeia, por sua vez, são cerca de 88.000 empresas que utilizam ouro, tungstênio, tântalo e estanho na produção de bens de consumo. Ou seja, possíveis minerais cuja origem pode estar relacionada às guerras e mortes supracitadas. No entanto, o Parlamento Europeu ainda está debatendo se os regula e, se sim, como regular. Até o momento, nenhuma ação foi tomada.
As decisões a respeito dos minérios de conflito flutuam conforme o ritmo do mercado internacional. Apesar de os congoleses serem os atores principais do processo, suas vozes geralmente não são ouvidas. As decisões sobre o futuro do país e de nações vizinhas quase sempre vêm de muito longe, sem buscar entender a realidade das pessoas que trabalham para que o mundo tecnológico continue em seu tão decantado "progresso".
Para finalizar, deixo-lhes como reflexão um trecho do artigo de Ricardo Antunes e Giovanni Alves intitulado "As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital".

Em julho 2010, o congresso dos Estados Unidos estabeleceu a lei Dodd-Frank de Proteção ao Consumidor e Reforma da Wall Street. Nela, há uma disposição (seção 1502) cujo objetivo primacial é impedir que o exército nacional e grupos rebeldes na República Democrática do Congo utilizem ilegalmente os lucros obtidos do comércio de minerais para financiar mais conflitos.
Essa lei implicou em um grande embargo à exportação dos minérios em pauta. Como já explicado anteriormente, o derramamento de sangue devido à atividade ilegal da mineração acaba afetando atividades econômicas similares e legais que ocorrem na RDC e em países adjacentes. Mas, não havendo nenhum mecanismo de certificação para provar que nem todos os minérios exportados não financiavam a barbárie, a abrupta interrupção da atividade produziu um efeito oposto ao esperado. Alguns trabalhadores se alistaram em grupos armados depois de terem perdido o emprego. Desde então, mecanismos e estruturas estão sendo implantados para colocar selo nos minerais que não possuem relação com atividades criminosas.
É necessário comprovar que a mina não é controlada por grupos armados e que nela não trabalham crianças, mulheres ou qualquer ser humano em condição similar à escravidão. O governo local tem que chegar até a mina com o material de certificação para proceder com os as ações legais. O acesso íngreme às minas e o conflito tornam a tarefa uma verdadeira atividade hercúlea. Desde 2011, apenas 140 das aproximadamente 5000 minas conseguiram a certificação.
Na União Europeia, por sua vez, são cerca de 88.000 empresas que utilizam ouro, tungstênio, tântalo e estanho na produção de bens de consumo. Ou seja, possíveis minerais cuja origem pode estar relacionada às guerras e mortes supracitadas. No entanto, o Parlamento Europeu ainda está debatendo se os regula e, se sim, como regular. Até o momento, nenhuma ação foi tomada.
As decisões a respeito dos minérios de conflito flutuam conforme o ritmo do mercado internacional. Apesar de os congoleses serem os atores principais do processo, suas vozes geralmente não são ouvidas. As decisões sobre o futuro do país e de nações vizinhas quase sempre vêm de muito longe, sem buscar entender a realidade das pessoas que trabalham para que o mundo tecnológico continue em seu tão decantado "progresso".
Para finalizar, deixo-lhes como reflexão um trecho do artigo de Ricardo Antunes e Giovanni Alves intitulado "As mutações no mundo do trabalho na era da mundialização do capital".
"Contrariamente à interpretação que vê a transformação tecnológica movendo-se em direção à idade de ouro de um capitalismo saneado, próspero e harmonioso, estamos presenciando um processo histórico de desintegração, que se dirige para um aumento do antagonismo, o aprofundamento das contradições do capital. Quanto mais o sistema tecnológico de automação e das novas formas de organização do trabalho avança, mais a alienação tende em direção a limites absolutos.
[...]
A desumanização segregadora leva ao isolamento individual, às formas de criminalidade, à formação de guetos de setores excluídos, até a formas mais ousadas de explosão social que, entretanto, não podem ser vistas meramente em termos de coesão social da sociedade como tal, isoladas da forma de produção capitalista (que é produção de valor e de mais-valor)."
Quer saber mais sobre os minérios de conflito? Assista:
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