sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Afinal, o que é TI Verde?

Essa é a pergunta que mais ouço quando digo que pesquiso sobre o assunto. 

Poucos conhecem e é natural que assim o seja, afinal, apenas entre os anos de 2005 e 2006 as empresas de TI começaram a adotar o termo. No meio universitário brasileiro, somente em 2009 houve trabalhos de pós-graduação sobre o tema e até hoje, dez anos depois, menos de cinquenta trabalhos sobre TI Verde foram desenvolvidos em mestrados e doutorados no Brasil.

Evidentemente que o interessado mais atento perceberá que o termo é autoexplicativo. Mas como conceituá-lo de fato? E quais são as práticas relacionadas à TI Verde? 

Desde já, alerto-lhes: justamente por ser um termo relativamente recente, não há uma definição exata sobre a TI Verde muito embora suas práticas sejam abundantes.

Para abordar melhor este tema e, de certa forma, responder à pergunta que dá título a esta postagem, recorramos a San Murugesan. Murugesan é um instrutor corporativo, pesquisador e professor adjunto da Western Sidney University. Suas pesquisas envolvem, dentre outras vertentes: Cloud computing, Internet das Coisas, desenvolvimento de aplicativos, Sistemas Inteligentes, Tecnologia e Sociedade, Tecnologia da Informação em sociedades emergentes e, é claro, TI Verde. 

A seguir, apresentamos o seu artigo intitulado "Making IT Green" de 2010. 

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INTRODUÇÃO 

À medida que a temperatura global aumenta - causando consequências potencialmente desastrosas - e à medida que os problemas ambientais se tornam globais, os olhares são gradativamente voltados à TI. Paradoxalmente, a Tecnologia da Informação é, ao mesmo tempo, um problema e uma solução para a sustentabilidade ambiental. Uma vez que as empresas e os governos procuram buscar um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, os profissionais da TI são chamados a tornar as práticas de trabalho - e os sistemas a elas vinculados - mais ecológicas, fazendo o universo da TI cada vez mais inovador no enfrentamento positivo dos problemas ambientais

A TI Verde, também conhecida como Computação Verde, refere-se ao estudo e à prática de projetar, fabricar e usar sistemas de hardware, software e comunicação de maneira eficiente e efetiva, com impacto mínimo ou nenhum ao meio ambiente. A TI Verde também apoia, auxilia a promove outras iniciativas ambientais e ajuda na criação da consciência ecológica.

IMPACTO AMBIENTAL

O abrupto desenvolvimento da TI em todas as áreas da atividade humana, oferecendo grandes benefícios de entretenimento e transformando irreversivelmente os negócios e as relações entre as pessoas, também tem contribuído para o agravamento dos problemas ambientais. Infelizmente, a maioria das pessoas - incluindo muitos profissionais de TI - não percebe isso. A TI afeta nosso ambiente de várias maneiras diferentes. Cada estágio da vida de um computador - da produção ao descarte- apresenta agressões ao meio ambiente. O processo produtivo dos computadores e dos seus diversos componentes eletrônicos e não-eletrônicos recorrem ao consumo de eletricidade, de matérias-primas, de produtos químicos e de água. Ao final, geram resíduos altamente perigosos para a natureza. Tudo isso afeta nosso meio ambiente.

Globalmente, o consumo total de energia elétrica por datacenters, servidores e computadores está aumentando constantemente. O crescimento no consumo de energia resulta no aumento das emissões de Gases de Efeito Estufa, já que a maior parte da eletricidade é gerada pela queima de carvão, petróleo ou gás. Muitos computadores, seus periféricos, peças de TI e outros equipamentos eletrônicos, que contêm materiais tóxicos e são descartados pouco tempo após a sua compra, acabam em aterros, poluindo a terra e contaminando a água.

O aumento do número de computadores em uso e suas frequentes substituições tornam o impacto ambiental da TI uma grande preocupação. Consequentemente, há uma pressão crescente sobre nós para tornar a TI ambientalmente correta.

"VERDIFICANDO" A TI

Para construir um ambiente mais verde, precisamos alterar por completo algumas das nossas velhas e familiares ações do cotidiano. Para superar de forma abrangente e eficaz o impacto ambiental da TI, devemos adotar uma abordagem holística e tornar todo o ciclo de vida da TI mais ecológico. Podemos fazer isso considerando a sustentabilidade ambiental nos quatro caminhos descritos a seguir:

•  Uso ecológico - reduzindo o consumo de energia de datacenters, computadores e outros sistemas de informação e usando-os de maneira ambientalmente correta;
• Eliminação verde - reformando e reutilizando os computadores antigos e reciclando os computadores e outros equipamentos eletrônicos indesejados de forma ambientalmente responsável;
• Design ecológico - projetando componentes, computadores, servidores, equipamentos de resfriamento e datacenters para que sejam eficientes em termos de energia e ambientalmente saudáveis; 
• Fabricação verde - produzindo componentes eletrônicos, computadores e outros subsistemas associados com impacto mínimo no ambiente.

A TI Verde abrange muitas áreas e atividades centrais da TI, incluindo: gerenciamento de energia; design, layout e localização do datacenter; uso de materiais biodegradáveis na produção eletrônica; conformidade regulatória; métricas e rotulagens verdes; ferramentas de avaliação de pegada de carbono; e mitigação de riscos relacionados ao meio ambiente.

Um número crescente de fornecedores e usuários de TI começou a voltar suas atenções para a TI Verde. Provocados pela iminente introdução de mais impostos e regulamentações verdes, haverá um grande aumento na demanda por produtos e soluções de TI ecológicos. Como exemplo, a "The Electronic Product Environmental Assessment Tool" (n.t.: Ferramenta de Avaliação Ambiental de Produtos Eletrônicos) (https://www.epeat.net) é um excelente meio de auxílio aos compradores para a identificação de produtos verdes em TI, rotulando os hardwares de computadores e outros aparelhos como bronze, prata ou ouro, com base em seus atributos ambientais. 

Há uma grande promessa no movimento da TI Verde. Aqueles que estão na profissão de TI, bem como os usuários de TI, têm a responsabilidade de ajudar a criar um ambiente mais sustentável.

TI PELA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Além de a TI dever ser Verde, ela também pode ajudar a criar um ambiente mais sustentável. Como?

• Coordenando e otimizando a cadeia de suprimentos, as atividades de manufatura e os fluxos de trabalho organizacionais para minimizar o impacto ambiental;
• Tornando as operações de negócios, edifícios e outros sistemas energeticamente eficientes; 
• Analisando, desenvolvendo modelos e avaliando os possíveis impactos ambientais de modo a evitá-los;
• Elaborando plataformas para negócios de cunho ambiental;
• Auditando e reportando o consumo de energia e o descarte incorreto de materiais eletrônicos;
• Oferecendo sistemas de gestão e de conhecimento ambiental, bem como sistemas de apoio à decisão de impacto ambiental;
• Integrando e agregando dados de redes de monitoramento ambiental.

A TI Verde será um importantíssimo tema nos próximos anos, uma vez que é imperativo o desenvolvimento de uma TI ambientalmente sustentável do ponto de vista econômico e ambiental.

PERSPECTIVAS VERDES

Precisamos, portanto, educar os profissionais e estudantes de TI sobre a TI Verde e suas perspectivas. Muitos profissionais de TI e executivos seniores da área não sabem como ou por onde começar quando se trata de implementar a TI verde. Além disso, há uma disparidade no nível de entendimento da TI Verde entre empresas, profissionais de TI e usuários de TI. Percebendo isso, algumas universidades e institutos de treinamento assumiram a liderança e começaram a oferecer cursos sobre TI Verde. Como exemplo, a Leeds Metropolitan University no Reino Unido passou a oferecer um curso de mestrado em computação verde. Espero que outras universidades e institutos de treinamento em breve ofereçam programas semelhantes.

Várias organizações e agências também promovem ativamente a TI ambientalmente sustentável, incluindo o Uptime Institute, a Computing Impact Organization, a Climate Savers Computing Initiative e o Green Electronics Council.

Houve grandes avanços nos últimos anos em termos de melhoria da eficiência energética de computadores, virtualização, projetos e operações em datacenters, software com reconhecimento de energia e assim por diante. No entanto, existem várias áreas de TI Verde que exigem mais pesquisa e desenvolvimento: adoção prática de tecnologia sustentável; avaliação de impacto ambiental; normas, leis e regulamentações; e aproveitamento de TI para sustentabilidade ambiental.

Além disso, a agenda de TI Verde abriu novas oportunidades de carreira para profissionais de TI com habilidades nessa área. Algumas organizações criaram novas posições e divisões para abraçar essa próxima tendência.

A agenda de TI Verde representa uma mudança dramática nas prioridades para o setor de TI. Até recentemente, o ramo da TI estava focado principalmente na funcionalidade, na capacidade de processamento e no custo de seus equipamentos. No futuro, porém, a indústria também precisará lidar com sua responsabilidade no impacto ambiental da TI. Profissionais de TI, educadores, pesquisadores e usuários podem fazer a diferença e ajudar a criar um ambiente sustentável que beneficie as gerações atuais e futuras. Espero que você se junte à onda verde e faça o possível para tornar a TI e seu uso mais ecológicos e aproveitar o poder da Tecnologia da Informação para melhorar a sustentabilidade ambiental.

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Tradução: Lucas Feitosa.

Para citar este artigo: 
MURUGESAN, S. Making IT Green. IT Professional. Los Alamitos, v. 12, N. 2, p. 4-5, mar., 2010.

Link para o artigo original:


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