segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

TI Verde: um pouco de história

Para iniciar nossas reflexões, devemos considerar a Tecnologia da Informação (TI), como um conceito abrangente que inclui tanto os sistemas de informação, como o uso de hardware, software, peopleware, telecomunicações, automação e recursos multimídias com o objetivo de fornecer à coletividade dados, informações e conhecimento.

Os mais variados recursos de TI têm evoluído sobremaneira desde a segunda metade do século XX, principalmente devido ao seu valor estratégico e às crescentes pressões verificadas no setor econômico e produtivo Com a popularização dos computadores e o desenvolvimento da microeletrônica, a palavra informação adquiriu um sentido diferente. Seu universo semântico anterior correspondia à transmissão de dados acerca de alguém ou de algo e era comumente relacionado à divulgação de acontecimentos ou ao estabelecimento de comunicações que chegavam ao receptor com uma considerável defasagem temporal. Na década de 1950, a interlocução entre duas pessoas, cada uma situada em localidades diferentes, só era viável por intermédio de ferramentas como telefone, telex e correios. Era uma época em que não havia as comunicações via satélite, tampouco internet, celular, redes sociais virtuais, etc. Nos tempos atuais, a informação está intrinsecamente relacionada, ainda que de modo inconsciente, à noção de velocidade, ao aparato tecnológico e ao encurtamento do tempo e do espaço. Com o aperfeiçoamento constante das Tecnologias de Informação, o tempo real e a distância espacial entre populações e indivíduos consideravelmente distantes passaram a ser rigorosamente aproximados.


A evolução da TI está atrelada aos avanços científicos e tecnológicos na área da informática. A informática, por sua vez, pode ser definida como o conjunto das ciências relacionadas à coleta, armazenamento, transmissão e processamento de informações por meios digitais. Dentre essas ciências, a Computação é seu carro-chefe, assumindo a função de prover o domínio da Informática com todas as técnicas, instrumentos e metodologias que viabilizem soluções para problemas relacionados ao uso do processamento de dados.

Destarte, a história da Tecnologia da Informação está necessariamente vinculada à história da Computação.

Ao examinar os tempos pretéritos, computar significava solucionar problemas de natureza matemática, ou seja, resolver cálculos científicos complexos. No entanto, a contagem é um aspecto particular da computação que não a define por completo. Mais do que isso, computar denota também classificar. Dessa forma, a junção de contagem e classificação deu à computação uma primazia no desenvolvimento de soluções complexas dentre as quais é possível citar a navegação, as decodificações, as tributações, as observações astronômicas e as previsões de todo o tipo.

Os homens e as mulheres responsáveis por esse tipo de função no passado eram denominados de calculistas ou computadores, uma vez que eram eles e elas os incumbidos de realizar cálculos ou computações. É daí que se dá a etimologia da palavra computação.

Desde os primórdios, os seres humanos dedicaram-se ao desenvolvimento de máquinas que, não apenas resolvessem os problemas da civilização, mas que fornecessem respostas aproximadamente precisas àquele que as manipula. 

Dentre essas máquinas, é possível citar o ábaco, inventado pelos babilônios há 4.500 anos e considerado a mais antiga máquina de calcular. O mecanismo de Antikythera, possivelmente o computador analógico mais antigo da humanidade - datado de 100 anos antes de Cristo -, utilizado pelos greco-romanos para antever os movimentos do Sol, da Lua, dos planetas e das estrelas além de prever eclipses. As esferas armilares, utilizadas na Grécia Antiga, na China, no mundo islâmico e herdadas posteriormente aos navegadores do ocidente, eram empregadas como modelos dos movimentos do céu, colocando a Terra como centro do Universo. O astrolábio, originado no século X depois de Cristo e também ligado às navegações, eram postos a determinar o ângulo de elevação das estrelas e calcular suas respectivas periodicidades de modo a definir a posição do marinheiro em relação ao céu. Os relógios mecânicos, inventados na China no século VIII depois de Cristo, feitos para computar uniformemente a periodicidade do tempo diário.

À medida que os cálculos e, em especial, a aritmética foram ficando mais complexos e abstratos, a computação tornou-se uma atividade especializada. A partir do século XVI, sapientes como Wilhelm Shickard (1592-1635), John Napier (1550-1617), Henry Briggs (1561-1630), Blaise Pascal (1623-1662) e John Harrison (1693-1776) foram responsáveis por contribuir amplamente com a computação a partir da construção de máquinas capazes de resolver com precisão problemas envolvendo as quatro operações fundamentais.

O próximo passo da história da computação correspondeu à sua mecanização, condicionando o funcionamento das máquinas a uma independência do elemento humano. No Reino Unido, a Revolução Industrial e a consequente ascensão tecnológica na chamada Era Vitoriana, trouxe consigo o entusiasmo pelas máquinas a vapor que foram o berço da computação mecanizada ou automática.

Grande expoente desta época, o matemático britânico Charles Babbage (1791-1871) descreveu, no ano de 1822, um modelo de Máquina Diferencial cuja organização permitia realizar cálculos com polinômios. 

Em 1834, Babbage desenvolveu um projeto de Máquina Analítica, com uma estrutura composta por uma unidade lógica aritmética, fluxo de controle de ramificações condicionais, loops e memória integrada. Ou seja, a Máquina Analítica corresponde ao primeiro projeto de computador tal como o conhecemos. Sua estrutura foi basicamente a mesma adotada pelos computadores da era eletrônica. 



Neste contexto, é importante salientar o papel de Ada Lovelace (1815-1852), a primeira programadora do mundo. Sua contribuição para a computação reside no fato de ter sido ela a primeira pessoa a descrever um algoritmo para ser processado na Máquina Analítica de Charles Babbage. O algoritmo computava os números de Bernoulli (uma sequência de números racionais, ou seja, uma fração qualquer de dois números inteiros) com intrínsecas conexões com a teoria dos números. Neste procedimento, Lovelace descreveu quais cartões operacionais seriam usados para realizá-lo. Esses cartões, impulsionados principalmente por Herman Hollerith (1860-1929), um dos fundadores da International Business Machines (IBM) e precursor do processamento de dados, representavam o que hoje nós conhecemos como softwares.  


O início do século XX marcou a computação em duas vertentes: em um primeiro momento, a energia elétrica se estabeleceu como a força motriz dos processos computacionais; em seguida, as abordagens matemáticas da lógica passaram a caracterizar a computação. Resumidamente, pode-se afirmar que ambos deram à computação automática sua notável fundamentação binária.

Ainda no século XIX, George Boole (1815-1864), propôs símbolos claros e rígidos no lugar das palavras elásticas e maleáveis que compunham as equações computacionais.

O sistema proposto por Boole constituiu a base lógica para o comportamento dos circuitos elétricos dispostos na máquina de computação "universal" desenvolvida por Alan Turing (1912-1954). No ano de 1936, através do artigo "On Computable Numbers" (leia-o na íntegra: https://www.cs.virginia.edu/~robins/Turing_Paper_1936.pdf), o matemático britânico descreveu um modelo abstrato de computador que se limitava apenas aos aspectos lógicos do seu funcionamento (memória, estados e transições), sem preocupar-se com sua implementação física. A partir deste modelo universal (ou, simplesmente, Máquina de Turing), seria possível construir qualquer computador digital.

Em 1938, Turing compôs a equipe do Government Communications Headquarters (GCHQ) do serviço secreto britânico M16. Tendo como local secreto um casarão em Bletchey Park, o objetivo da agremiação era descobrir modos de decifrar os radiotelegramas cifrados nas máquinas alemãs denominadas Enigma. Essas máquinas eram capazes oferecer 150 quintilhões de possibilidades de configurações. Apenas uma delas - previamente conhecida pelo destinatário - era correta e capaz de fornecer a mensagem exata que se desejava transmitir pelo emissor.

Com apetite para problemas matemáticos desafiadores e objetivando derrubar os códigos das Enigma, Turing projetou, em 1940, a "Bomba" eletromecânica, um aparelho que não era um computador no sentido moderno, mas tinha algumas características notáveis. Semelhantes a esse aparelho, cientistas do GCHQ projetaram outros dentre os quais merece destaque a máquina decifradora Colossus. Pelo grande número de máquinas de processamento de dados concentrados em um único prédio, é possível considerar Bletchey Park como o primeiro datacenter do mundo.

As máquinas supracitadas abriram caminho para a moderna computação eletrônica. Em 1946, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Electronic Control Company dos Estados Unidos colocou em funcionamento o primeiro computador digital do mundo: o Electronic Numerical Integrator and Computer (ENIAC). O ENIAC era eletrônico, programável, possuía capacidade de realizar 5.000 operações por segundo e era detentor de 17.468 válvulas termiônicas de 160 kW de potência. Ademais, seus softwares eram compostos por cartões operacionais.


Ainda em 1946 e tendo o ENIAC como base, John von Neumann (1903-1957) descreveu como deveria ser a organização de um computador eletrônico com programa armazenado. Na denominada "arquitetura de von Neumann", um computador deve ser formado por blocos com funções diferentes: 1) uma memória; 2) uma unidade lógica aritmética; 3) uma unidade central de processamentos; 4) uma unidade de controle, equivalente à Máquina de Turing.

Como salientado no início deste texto, a informação digital ainda engatinhava na década de 1950. Porém, a partir deste mesmo período, a situação começou a mudar. As máquinas de computação deixaram de ser de uso exclusivo de matemáticos e começaram, paulatinamente, a fazer parte do cotidiano das pessoas. O software deixou de ser reservado apenas à codificação das máquinas e ganhou um arranjo abrangente, com linguagens de computação mais abertas. Esse afastamento entre softwarehardware permitiu que as máquinas de computação tivessem suas interfaces melhoradas, tornando-as mais fáceis de serem utilizadas por pessoas comuns.

Na década de 1960, a tendência tecnológica se desenvolveu apontando para uma diminuição progressiva no tamanho dos computadores. A produção em massa de transistores e circuitos impressos forneceram a base necessária para que, em 1968, a recém-fundada Intel Corporation fosse pioneira na fabricação de microprocessadores. Estes possuíam circuitos integrados que agregavam circuitos lógicos de unidade central de processamento em um pequeno chip. Ou seja, a construção de mini e microcomputadores tornou-se uma realidade. O Osborne I, lançado em 1981 por Adam Osborne, foi o primeiro computador portátil do mundo e pesava apenas 13 kg.

As décadas de 1970 e 1980 ficaram marcadas pelo estabelecimento dos computadores tal como os conhecemos hoje. A Apple, fundada em 1976, logrou êxito nas vendas dos personal computers (PC) em 1982. Este termo, inclusive, foi criado pela IBM um ano antes, em 1981, quando esta empresa lançou seus primeiros PCs. Em 1984, a Apple apresentou o computador Macintosh, dotado de mouse, teclado e monitor além de uma interface gráfica denominada graphical user interface (GUI), caracterizada por janelas, ícones, figuras, caixas de diálogo e outras funções encontradas nos PCs atuais.

A Microsoft, fundada por Bill Gates (1955-) e Paul Allen (1953-2018) em 1975 para a produção de softwares para PCs, logo tornou-se líder no mercado mediante produção de sistemas operacionais (vide o Windows), ambientes de desenvolvimento de programas, servidores, jogos, computadores e serviços pessoais.

Para que a informação fosse potencializada neste cenário de boom tecnológico, foi necessário integrar a estrutura global de computadores. Em 1969, por iniciativa da Advanced Research Project Agency (ARPA), uma primeira experiência de conexão de computadores foi desenvolvida. O projeto conhecido como ARPANET foi responsável por ligar departamentos de pesquisa e instituições militares em território estadunidense. No início dos anos 1970, os computadores de outros órgãos e universidades ingressaram nesta rede. Até o final desta mesma década, foram criados os protocolos TCP (Transmission Control Protocol) e o IP (Internet Protocol), possibilitando uma maior abertura na intercomunicação entre computadores, transmissão e controle de recepção de dados. Em meados da década de 1980, estava criada a Internet. Hoje, é possível acessá-la por meio da rede de telefonia fixa (dial up), banda-larga (cabos ou fibras ópticas), interconexão sem fio (wireless, Wi-Fi), satélites e telefones celulares.

Em 1989, foi lançado o sistema de documentos interligados em hipermídia e executados na Internet denominado World Wide Web (WWW). Seu criador, Tim Berners-Lee (1955-), objetivava o compartilhamento de informações provenientes de pesquisas realizadas no Laboratório Europeu de Partículas Físicas. Também foi de Berners-Lee as criações do Hypertext Transfer Protocol (HTTP), do Hypertext Markup Language (HTML) e da Uniform Resource Locator (URL). Este último, trata-se do endereço virtual que se deseja acessar; o segundo, diz respeito ao protocolo para produção das páginas Web; o primeiro, corresponde ao acesso e transmissão de informações virtuais com gráficos, vídeos , fotos e sons.

Com a Internet, a computação se transformou no principal apanágio da Tecnologia da Informação. Sem as ferramentas computacionais integradas não há Tecnologia da Informação. A TI está em tudo. Cada vez mais, os dispositivos de computação acomodados em objetos do dia-a-dia serão capazes de enviar e receber informações, bem como de se conectar entre si pela Internet. Esse paradigma atual é o que se denomina de Internet das Coisas (saiba mais em: https://www.youtube.com/watch?v=QtjFedAEXus). Os artefatos só são conectados à Internet porque contêm estrutura computacional. A inserção dos computadores nos objetos cotidianamente utilizados pelos seres humanos é decorrente da atual configuração social representada pela informação como centro de toda atividade humana. Como meio de criação do conhecimento, a informação hodierna passa a desempenhar um papel fundamental na produção de riquezas, no bem-estar e na qualidade de vida dos cidadãos. Logo, o acesso às Tecnologias de Informação torna-se indispensável ao trabalho, às comunicações pessoais e ao lazer.

A Tecnologia da Informação molda a vida e ao mesmo tempo é moldada por ela. A sociedade, principalmente a contemporânea, não pode ser entendida ou representada sem suas ferramentas tecnológicas. Devido à sua penetrabilidade em todas as esferas humanas, a revolução provocada pela TI difundiu espontânea e indiretamente pela cultura mais significativa dos povos o espírito libertário da contracultura dos anos 1960. Naturalmente, o crescente contato com a informação tende a despertar no ser humano o raciocínio crítico e contestador. Como exemplos que favorecem a compreensão das consequências sociais involuntárias desencadeadas pela emergente Tecnologia da Informação na segunda metade do século XX, é possível citar: as lutas pelos direitos da mulher; o surgimento de movimentos antiautoritários e antiguerras; os crescentes debates sobre sexualidade humana; os esforços pela liberdade de expressão; as contestações contra a discriminação racial; as atenções voltadas para a questão da pobreza; os alertas à fragilidade do planeta Terra e às danosas ações antrópicas trazidos pelo movimento ambientalista. Para os objetivos desta postagem, foquemos neste último.

Nos movimentos estudantis, hippies e ativistas, cuja dimensão política chamou a atenção para a relação entre o desenvolvimento econômico e as consequências ambientais, emergiu a noção de sustentabilidade ambiental. Em 1965, pela primeira vez, a expressão Environmental Education (Educação Ambiental) foi utilizada. Isso ocorreu na Conferência de Educação da Universidade de Keele, Inglaterra.

Em 1968, um grupo criado por empresários, intelectuais e filantropos que não eram diretamente militantes ambientalistas, se reuniram em Roma, na Itália, objetivando identificar os problemas globais relacionados à preservação dos recursos naturais da Terra. O Clube de Roma, como ficou conhecida a associação, produziu uma série de relatórios sobre a questão ambiental, identificando quatro grandes problemas a serem solucionados: 1) o controle do crescimento populacional; 2) o controle do crescimento industrial; 3) a insuficiência de produção de alimentos; 4) o esgotamento dos recursos naturais. Como resultado desses estudos, em 1972 o grupo publicou o livro intitulado Os Limites do Crescimento (acesse-o: http://www.donellameadows.org/wp-content/userfiles/Limits-to-Growth-digital-scan-version.pdf).

Ainda em 1968, foi realizada em Paris a Conferência Sobre a Conservação e o Uso Racional dos Recursos da Biosfera onde foram estabelecidas as bases para o lançamento, em 1971, do Programa Homem e a Biosfera pela UNESCO. Neste programa, tratou-se das necessárias melhorias nas relações entre o homem e o meio ambiente e da conservação da biodiversidade

Em 1970 em Nevada, Estados Unidos, aconteceu o Encontro Internacional Sobre Educação Ambiental no Currículo Escolar. Neste evento, nasceu o conceito clássico da Educação Ambiental com respaldos para o desenvolvimento das atitudes e competências necessárias ao entendimento e apreciação da reciprocidade entre o ser humano, a cultura e os elementos biofísicos circundantes.

O impacto mundial causado pelas discussões levantadas pelo Clube de Roma atingiu seu ápice em 1972 com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano em Estocolmo, na Suécia. Este primeiro encontro internacional sobre o meio ambiente reuniu 113 países e teve como objetivo conscientizar os líderes mundiais sobre os efeitos catastróficos, previstos pela comunidade científica, causados pela degradação da natureza, criando sérios riscos para o bem-estar e para própria sobrevivência da humanidade.

A Conferência de Estocolmo foi marcada por um impasse envolvendo as perspectivas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Enquanto os primeiros preocupavam-se com os efeitos causados pela devastação ambiental e defendiam um acordo internacional voltado à conservação dos recursos naturais, os segundos ainda possuíam sérios problemas de miséria a serem resolvidos cuja saída mais eficaz seria mediante a industrialização e a extração contínua dos insumos oferecidos pela natureza. Considerando que o desenvolvimento econômico e social deve levar em conta as preocupações e interesses de toda a população, surgiu o conceito de Ecodesenvolvimento. O Ecodesenvolvimento consiste em um processo criativo de transformação do ambiente a partir de técnicas menos agressivas que impedem o desperdício desmedido dos recursos naturais, cuidando para que estes sejam empregados do modo mais eficiente possível à população.

Dentre os resultados da Conferência de Estocolmo, a Declaração sobre o Ambiente Humano ou Declaração de Estocolmo (leia-o: https://apambiente.pt/_zdata/Politicas/DesenvolvimentoSustentavel/1972_Declaracao_Estocolmo.pdf) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foram os mais importantes. Eles representaram a síntese da convicção estabelecida pelo evento de que as gerações presentes e futuras têm o reconhecido direito fundamental à vida dentro de um ambiente ecologicamente saudável. Para tal, dever-se-ia adotar comportamentos ambientalmente responsáveis que pautariam as decisões governamentais concernentes às questões ambientais. Neste sentido, foram estabelecidos na supracitada Declaração 26 princípios que funcionariam como metas ambientais a serem gradualmente alcançadas pela humanidade.

Como desdobramento da Conferência de Estocolmo, no ano de 1975 na cidade de Belgrado, antiga Iugoslávia, ocorreu o Seminário Internacional de Educação Ambiental que reuniu especialistas de 65 países. Neste evento, foram formuladas orientações para que a Educação Ambiental fosse abordada nas escolas de modo contínuo, interdisciplinar e integrado às matrizes curriculares, respeitando as diferenças regionais e orientada para interesses nacionais. Como resultado do Seminário, foi elaborada a Carta de Belgrado (confira: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CBelgrado.pdf).

Em 1977 ocorreu a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental em Tbilisi, antiga União Soviética e atual capital da Geórgia. Em parceria entre a UNESCO e o PNUMA, a Conferência contribuiu para definir e reforçar os princípios, os objetivos e as estratégias para a Educação Ambiental em todo o mundo. Confira algumas das recomendações deste evento: http://www.fzb.rs.gov.br/upload/20130508155354tbilisi.pdf.

Em 1983, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou um órgão independente denominado Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD). Quatro anos depois, em 1987, este órgão publicou um dos mais importantes e influentes documentos da história do ambientalismo. Este documento (confira: https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/5987our-common-future.pdf) é um relatório denominado Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland.

Considerando como base o conceito de Ecodesenvolvimento trazido pela Conferência de Estocolmo, pela primeira vez na história veio a lume o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Segundo o Relatório Brundtland, a preocupação da humanidade não se limita apenas ao impacto da atividade econômica no meio ambiente, mas relaciona esse impacto à qualidade de vida e ao bem-estar da sociedade, tanto a atual quanto a futura. Logo, um Desenvolvimento que seja verdadeiramente Sustentável deve levar em consideração o equilíbrio de três elementos: a justiça social; a proteção ambiental; e o desenvolvimento econômico.


Em 1988, a pauta da sustentabilidade ambiental foi as alterações climáticas. Em Toronto, Canadá, foi realizada a Primeira Conferência Mundial sobre o Clima (também conhecida como Conferência de Toronto). Nela, diversos cientistas e lideranças governamentais discutiram sobre os impactos nas condições climáticas da Terra devido à interferência dos gases causadores do efeito estufa. Dados foram apresentados e debatidos, o que engendrou a criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), cujo intuito é avaliar os desafios postos pelas mudanças climáticas de origem antrópica.

Também em 1988, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução que determinava a realização, até 1992, de uma conferência ambiental com o objetivo de avaliar como os países conseguiram lidar com a sustentabilidade ambiental desde a Conferência de Estocolmo de 1972. O Brasil ofereceu-se para sediar o evento.

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (também conhecida como Rio 92 ou Eco 92) ocorreu na cidade do Rio de Janeiro em junho de 1992. Contou com a participação de 179 países, de ambientalistas e de organizações não governamentais de todo o mundo, a exemplo do Greenpeace. Além de avaliar os avanços e retrocessos em relação a 1972, a Rio 92 teve como objetivos fazer valer o Desenvolvimento Sustentável e formar base para uma associação mundial entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, buscando o compromisso de governos e sociedade na conscientização ambiental e na compreensão das necessidades comuns.

A Conferência Rio 92 aprovou documentos com finalidades mais abrangentes e de cunho político. Dentre esses documentos, estão a Declaração do Rio (http://www.scielo.br/pdf/ea/v6n15/v6n15a13.pdf) e a Agenda 21 (https://www.youtube.com/watch?v=QMRWxC9WhGY). Ambos endossam o Desenvolvimento Sustentável, mesclando as aspirações partilhadas pela totalidade dos países em relação ao progresso financeiro com a necessidade de uma consciência ecológica.

Em setembro de 2000, após reflexões sobre as convenções ambientais pregressas e avaliando as condições contemporâneas da sustentabilidade ambiental à época, os líderes dos 191 Estados Membros da ONU reuniram-se em Nova York para adotar a Declaração do Milênio. Com este documento, seria construído mais um pacto global para reduzir a pobreza extrema (correspondente ao elemento "justiça social" do conceito de Desenvolvimento Sustentável) em um conjunto de oito objetivos com prazo para seu alcance até 2015. Estes objetivos ficaram conhecidos como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.


Uma década após a Eco 92, as Nações Unidas realizaram em agosto de 2002 uma reunião global em Joanesburgo, na África do Sul. Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (popularmente conhecida como Rio+10), os líderes mundiais tiveram mais uma oportunidade histórica para alinhar propostas globais com metas sociais, ambientais e economicamente sustentáveis. O objetivo geral da conferência foi reforçar o Desenvolvimento Sustentável e a cooperação internacional. Dentre os pontos discutidos, merecem destaque: a questão da miséria ainda latente em boa parte do planeta; gestão de recursos naturais; direitos humanos; globalização; distribuição de renda; planejamento ambiental.

Em junho de 2012, no Rio de Janeiro, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (ou Rio+20) apresentou como objetivos renovar e ratificar os compromissos firmados pelos líderes mundiais na Rio 92. Além disso, foram debatidos os processos de economia verde, as soluções para erradicar a pobreza e os meios para instituir ferramentas que dessem continuidade ao Desenvolvimento Sustentável.

A última grande reunião que continuou a traçar os rumos do Desenvolvimento Sustentável e da Educação Ambiental pelo mundo foi a Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. A reunião foi realizada na sede da ONU, em Nova York, em setembro de 2015. Foi apresentada aos líderes mundiais a possibilidade de confirmarem os seus compromissos com a sustentabilidade ambiental e, a partir deste comprometimento, foram definidos dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem cumpridos pelos Estados Membros até 2030. O enfoque desses objetivos reside nas áreas sociais, econômicas, ambientais e institucionais.

Relacionados ao Desenvolvimento Sustentável e à Educação Ambiental, é possível afirmar que os debates sobre sustentabilidade ainda incluem outros três conceitos igualmente importantes. O primeiro, diz respeito à produção sustentável, que significa a criação de bens de consumo por sistemas e processos não poluentes, que preservam a energia e os subsídios naturais de forma financeiramente viável, saudável e segura tanto para os consumidores quanto para a comunidade como um todo. O segundo corresponde ao consumo sustentável, que basicamente consiste em assegurar as necessidades básicas do indivíduo e da comunidade sem que, para isso, haja um consumo vultoso de energia e materiais, reduzindo, assim, os danos ambientais. O terceiro é a economia verde ou bioeconomia, que se refere à obtenção e utilização sustentável dos recursos naturais destinados ao bem estar do cidadão e da sociedade.

Se a nascente Tecnologia da Informação da segunda metade do século XX auxiliou o surgimento do movimento ambientalista, foi a consciência coletiva de defesa ao meio ambiente no início do século XXI que, tal como em uma relação dialética, passou a influenciar nos destinos da Tecnologia da Informação.

Considerando o contexto ambiental e tecnológico supracitado e as mudanças de valores decorrentes de ambos, passou a haver uma pressão social para que as inovações tecnológicas devessem estar em sintonia com as necessidades humanas e as carências sociais, de modo que as ações coletivas em suas produções fossem estabelecidas em princípios capazes de assegurar a dignidade humana e a sustentabilidade social e natural. Essa compreensão fez com que a indústria de TI começasse a desenvolver, na década de 1990, um conjunto de procedimentos visando, inicialmente, minimizar o consumo de energia elétrica dos equipamentos.

O marco da relação entre TI e sustentabilidade é o ano de 1992. Influenciada pelos crescentes debates sobre meio ambiente, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos lançou, naquele ano, o programa Energy Star.

O selo Energy Star passou a ser concedido aos produtos eletrônicos que conseguissem minimizar o uso de energia e, ao mesmo tempo, maximizar sua eficiência no funcionamento. A Energy Star foi aplicada em diferentes tipos de produtos como computadores, televisores, condicionadores de ar, televisões, geladeiras, máquinas de lavar roupa, dentre outros. Na indústria da informática, a Energy Star provocou a adoção de condutas sustentáveis – fazendo surgir, por exemplo, a opção de modo de espera em monitores após um período estabelecido de inatividade da máquina – nas quais o desenvolvimento de produtos, os processos de produção e o descarte de materiais causasse o menor impacto ambiental possível.

Nos anos seguintes, os produtos de TI evoluíram em tamanho, leveza, capacidade de armazenamento, velocidade e processamento. O já salientado avanço da microeletrônica e a crescente integração e miniaturização dos circuitos passaram a ser produzidos em larga escala. Esse fenômeno está diretamente ligado ao consumismo acelerado de equipamentos eletrônicos. Ou seja, os produtos eletrônicos, que anteriormente era feitos para durar anos, hoje, rapidamente tornam-se obsoletos gerando, por consequência, uma grande quantidade de lixo eletrônico. Este cenário motivou o início das discussões sobre práticas sustentáveis em logística reversa, remanufatura, reusabilidade e descarte correto de resíduos eletroeletrônicos.

No início dos anos 2000, gestores empresariais começaram a constatar que a Tecnologia da Informação possuía uma problemática fundamental em sua relação com o meio ambiente:


Diante deste cenário, entre os anos de 2005 e 2006, algumas empresas de TI, com a finalidade de vincular os recursos disponíveis a políticas de sustentabilidade e economia dentro das organizações de modo a gerar benefícios para si e para o meio ambiente, conceberam a noção de Tecnologia da Informação Verde ou TI Verde. Sendo considerada a mais recente manifestação de práticas sustentáveis e com crescente relevância, a TI Verde é um conjunto de práticas ecoeficientes em TI: desde a fabricação de equipamentos ecologicamente saudáveis, à adaptação sustentável da infra-estrutura de TI, considerando também a aquisição, o uso e o descarte ambientalmente responsáveis dos produtos tecnológicos informacionais.

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REFERÊNCIAS
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