Saudações ecológicas!
Desde já, espero que todos vocês estejam seguindo os protocolos de proteção nesse combate à COVID-19. Lembrem-se que proteger-se é também proteger a coletividade na qual você está inserido(a)!
E, enquanto essa turbulência não passa, vamos falar sobre TI Verde? :)
Vamos!
Hoje gostaria de apresentar-lhes, de forma detalhada, como a TI Verde pode auxiliar na economia. O conteúdo desta postagem foi extraído e adaptado do "Guia Didático para o Ensino de TI Verde", escrito por mim e que dentro em breve será lançado.
Vem comigo!
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Conforme explicam Barsano e Barbosa (2019), o desenvolvimento sustentável é também um modelo de progresso econômico. Seu estabelecimento no mundo dos negócios mediante compromissos concretizados em conferências internacionais sobre o meio ambiente, incentivam que as empresas implementem, em seus processos de produção e nos seus serviços, programas de gestão que estejam condizentes com a sustentabilidade ambiental e, ao mesmo tempo, atendam às metas de rentabilidade financeira dos grupos empresariais.
À medida que cresce a conscientização ambiental da coletividade, crescem também as pressões sociais para que as empresas adotem atitudes mais verdes em seus procedimentos. Consequentemente, o mercado também atua "selecionando" as empresas que melhor adaptam-se às novas exigências ambientais. São analisados não apenas o cumprimento das leis vigentes mas também as iniciativas espontâneas em prol do meio ambiente. Atualmente, a aceitação social de uma empresa passa pelo comprometimento ambiental que ela demonstra, sendo este avaliado por indicadores que comprovem, tanto para a comunidade em geral como para as partes interessadas (stakeholders), sua responsabilidade socioambiental. Oliveira (2014) afirma que o indicador de sustentabilidade da Dow Jones (Dow Jones Sustainability Index - DJSI), criado em 1999, foi o primeiro com o objetivo de mensurar a sustentabilidade ambiental de empresas. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo lançou, em 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), usando como modelo o DJSI mas focado no mercado de ações brasileiro. Tais índices reportam aos stakeholders se o modelo de gestão das empresas e o comprometimento destas com fatores ambientais são passíveis de proporcionar investimentos. Em suma: a responsabilidade socioambiental é percebida pelas empresas tanto para a sua própria sobrevivência como também para obtenção de vantagem competitiva.
A adoção de uma gestão ambiental organizacional baseada, por exemplo, em normas como a ISO 14001, para além do diferencial competitivo, oferece às empresas também: melhoria organizacional, a partir da conscientização dos funcionários e do relacionamento de parceria com a comunidade; minimização dos custos, evitando o desperdício de matéria-prima; minimização dos riscos, atentando-se para procedimentos que reduzam a possibilidade de acidentes ambientais. Alguns conceitos passaram a fazer parte do cotidiano empresarial, como, por exemplo a ecoeficiência, a ecoeficácia, a ecorresponsividade e a ecolegitimidade.
A ecoeficiência diz respeito à entrega de bens e serviços com preços mais competitivos que satisfaçam, ao mesmo tempo, as necessidades humanas e a qualidade de vida, a sustentabilidade ambiental e a redução de custos. O decréscimo no uso de energia elétrica, o apoio à reciclagem, o aumento da durabilidade dos produtos, o uso de equipamentos sustentáveis e a diminuição na produção de resíduos são algumas medidas que caracterizam a ecoeficiência. A ecoeficácia, por sua vez, tem ligação com os valores e as crenças da empresa na obtenção de resultados sociopolíticos aliados às perspectivas ambientais. A ecorresponsividade corresponde à melhoria da qualidade ambiental de uma empresa como forma de responder aos anseios ou ações dos concorrentes, clientes e fornecedores. Por fim, a ecolegitimidade refere-se ao conjunto de ações sustentáveis tomadas por uma empresa devido às pressões políticas e sociais às quais ela está exposta. Se o que esses conceitos representam pudessem ser colocados em vetores, teríamos algo semelhante à figura abaixo.
A TI Verde surge exatamente da inquietação do setor empresarial na busca pelo uso ou produção de equipamentos de TI mais sustentáveis. Como explica Mansur (2011), a busca pelo ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade dinâmica do negócio e a gestão da Tecnologia da Informação, ensejou o surgimento de uma governança em TI Verde com o objetivo de atender às necessidades organizacionais sem comprometer negativamente o meio ambiente. A redução do desperdício e o aumento da eficiência dos processos e fenômenos vinculados à operação de computadores fazem parte da governança em TI Verde. Lunardi, Frio e Brum (2011) explicam que a adoção da TI Verde pelas organizações empresariais, além de reduzir a emissão de gases, ajudar na conservação de energia e controlar o descarte incorreto de aparelhos informáticos, também auxilia na minimização das perdas, cortando gastos operacionais e aumentando a produtividade dos funcionários. Além disso, as campanhas de publicidade - direcionadas a uma sociedade que crescentemente prefere empresas socialmente responsáveis -, a redução de taxas e impostos oferecidos por órgãos governamentais às organizações que investem em tecnologias verdes e os investimentos por outras empresas que queiram vincular sua imagem à sustentabilidade ambiental, são algumas das vantagens obtidas pelas organizações que implementam a TI Verde em sua rotina.
Ferreira (2012) reforça essa perspectiva afirmando que a viabilidade econômica, o impacto ambiental e a responsabilidade social presentes nos produtos de Tecnologia da Informação, promovem uma espécie de "competição verde" entre as empresas do ramo. Para adaptarem-se à competição, é natural que as organizações busquem produzir aparelhos cada vez mais eficientes em energia e durabilidade.


A Intel, multinacional empresa de tecnologia situada em Santa Clara, Califórnia, é o maior comprador de organizações com foco em energias renováveis nos Estados Unidos, representando 46% do mercado de compras de energias limpas neste país. No desenvolvimento dos seus produtos, prioriza-se a eficiência energética. Tem também como intuito reduzir o consumo de energia dos chips por ela fabricados.

O gerenciamento do uso de energia dos computadores deve ser algo estratégico em empresas. O custo potencial de energia e a emissão de gases de efeito estufa pelas organizações podem ser diminuídos em até 50% com medidas simples como, por exemplo, desligar monitores e impressoras após o seu uso ou utilizar cores mais escuras como plano de fundo da tela do computador. Mansur (2011) traz um exemplo prático: o autor explica que ao configurar a tela do monitor para cores mais escuras, economiza-se anualmente cerca de R$102,00 por computador; em uma base corporativa de 2.000 monitores tem-se, por ano, uma economia de R$204.000,00; em cinco anos, sem nenhum investimento, a empresa terá um retorno de mais de um milhão de reais!
A eficiência energética do datacenter também ocasiona o retorno financeiro. A virtualização diminui o número de servidores físicos, resultando em redução nos custos com energia elétrica para mantê-los funcionando, economia de tempo, ganho de espaço físico e agilidade no processamento das informações. A Universidade de Vanderbilt, localizada no Tennessee-EUA, ao adotar a virtualização dos seus servidores economizou por hora 20.575 watts, servindo de exemplo para que autoridades locais elaborassem planos de virtualização de 80% dos servidores da região. A Revlon, empresa estadunidense de cosméticos, virtualizou seus servidores o que permitiu uma economia de 72% no consumo de energia elétrica. A Sun Microsystems, antes de ser adquirida pela Oracle Corporation, tinha virtualizado seus servidores obtendo uma diminuição de 11 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, representando uma redução na emissão desse gás em 6% e uma economia de 1 milhão de dólares em seus custos finais com eletricidade. Seu espaço físico aumentou em 66% uma vez que os servidores físicos deixaram de ocupá-lo. No Brasil, estima-se que a computação em nuvem, entre os anos de 2014 e 2017, cresceu 74,3%, gerando um faturamento de US$ 798.000.000,00 no final de 2015 (DIAS, 2015).
Voltando aos desafios postos por Mansur (2011), aqueles que encontram-se a médio prazo na governança em TI Verde correspondem à necessidade de existir uma estrutura organizacional corretamente preparada para conduzir o descarte dos aparelhos que tornaram-se obsoletos. Em suma: é o gerenciamento dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, que devem ter seu manejo prioritariamente executado pelas empresas que os produzem. Antes de observarmos alguns exemplos, é necessário ter em mente certas informações. De acordo com o The Global e-waste Monitor (2017), uma grande variedade de materiais valiosos estão contidos em aparelhos elétricos e eletrônicos. Pelo menos 60 elementos da tabela periódica podem ser encontrados em eletrônicos complexos, e muitos deles são tecnicamente recuperáveis, embora existam limites econômicos estabelecidos pelo mercado. Como já foi visto em outras postagens do blog, o lixo eletrônico contém metais preciosos, incluindo ouro, prata, cobre, platina e paládio, mas também contém materiais volumosos igualmente valiosos, como ferro e alumínio, além de plásticos que podem ser reciclados. No geral, a Universidade das Nações Unidas estima que a perspectiva de recursos para matérias-primas secundárias de lixo eletrônico vale 55 bilhões de euros! Levando em consideração apenas os smartphones, seriam 9.4 bilhões de euros! Colocando em números absolutos, das 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico produzidos pela humanidade temos: 3.582 milhões de euros em ferro; 9.524 milhões de euros em cobre; 3.585 milhões de euros em alumínio; 884 milhões de euros em prata; 18.840 milhões de euros em ouro; 3.389 milhões de euros em paládio; 15.043 milhões de euros em plástico.
Diferentemente da economia linear, na qual os recursos naturais são extraídos, transformados em matéria-prima, manufaturados, distribuídos, usados ou consumidos e descartados, a noção de economia circular se faz necessária para que o valor inerente aos resíduos retorne à cadeia produtiva, auxiliando também na diminuição da quantidade de lixo eletrônico. A economia circular é um elemento chave para o desenvolvimento sustentável.
Dito isso, observemos alguns exemplos de governança em TI Verde no que tange ao gerenciamento de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos. A Hewlett-Packward (HP) transforma parte dos seus cartuchos em material reutilizável e projeta impressoras e scanners para receber a matéria-prima reciclada, o que permite com que cerca de 20% da matéria-prima venha de resíduos do próprio processo produtivo da empresa. Também prioriza em seus procedimentos o sistema de "take back", semelhante ao trade-in, no qual o cliente paga uma taxa embutida no produto que garante a devolução e reciclagem do material. A meta da HP é reciclar e reutilizar, por ano, 450.000 toneladas de produtos eletrônicos. Em média, seus notebooks são até 90% recicláveis ou recuperáveis.
A IBM, que possui políticas de reciclagem, recebe cerca de 1.000 unidades de equipamentos eletrônicos por ano. A empresa também é certificada pela ISO 14001. Os processos de trade-in são contemplados pela empresa e funcionam da seguinte forma: os produtos entregues são separados em commodities (materiais recicláveis como plásticos e metais) e vendidos para fornecedores ambientalmente confiáveis; outros materiais são separados e tratados, como baterias e monitores. As placas de circuito impresso são recicladas e delas são retirados os metais preciosos.

A Positivo Informática, maior fabricante de computadores no Brasil, iniciou sua política ambiental de gestão de resíduos eletrônicos no início dos anos 2000. Dentre as medidas adotadas destacam-se o aproveitamento de materiais de reciclagem para fabricação de computadores, o consumo de fontes alternativas de água e energia e o reaproveitamento dos materiais da própria empresa. Em 2008, a empresa criou uma fábrica de placas-mãe livres de chumbo e adotou embalagens de papel reciclado. Além disso, realiza periodicamente uma análise do ciclo de vida dos produtos, que contempla etapas de extração e processamento de matérias-primas, fabricação, embalagem, transporte, distribuição, utilização, reciclagem e reuso até o descarte final.
A Apple também possui uma política ambiental e empenha-se na eliminação do mercúrio utilizado em telas com iluminação, no processamento do lixo eletrônico e na substituição do PVC em diversos materiais. Além da Apple, a Dell, a Microsoft, a Ericson e a Philips criaram diversos projetos ambientais para padronizar globalmente seus procedimentos de reciclagem e reutilização de REEE. No Brasil, a TIM, a Vivo e a Claro possuem programas sustentáveis de coleta e reciclagem tanto de telefones celulares como de componentes agregados como baterias e carregadores.

Visando reduzir o gasto do dinheiro público, o Senado Brasileiro buscou uma política de controle de impressões em sua gráfica. Entre os anos de 2011 e 2014, foi economizado 1.3 milhão de reais nas despesas com matéria-prima, especialmente em relação à aquisição de papel para impressão. Entre 2011 e 2012 a economia foi de R$441.600,00; já entre 2012 e 2013 economizou-se R$ 817.000,00. De acordo com a matéria publicada no portal Senado Notícias (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/07/17/grafica-do-senado-reduz-consumo-de-papel-e-economiza-r-1-3-milhao-em-quatro-anos), o último levantamento indicou uma economia de R$128.200,00.
Os exemplos apresentados são apenas alguns dentre tantos outros que são passíveis de citação. Recomendo também, em caráter de complementaridade, as postagens "Guia de Eletrônicos Verdes" (https://tiverdeifs.blogspot.com/2019/09/guia-de-eletronicos-verdes.html) e "Fairphone: um caso de ética e sustentabilidade ambiental na TI" (https://tiverdeifs.blogspot.com/2019/09/fairphone-um-caso-de-etica-e.html).
REFERÊNCIAS
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BARSANO, P.R.; BARBOSA, R.P. Meio ambiente: guia prático e didático. 3. Ed. São Paulo: Érica,
2019. 264 p.
CARDOZO, R.S.; MURAROLLI, P.L. Tecnologia da Informação Verde: sustentabilidade tecnológica. O avanço da tecnologia em relação ao meio ambiente: tecnologia e sustentabilidade. Perspectivas em ciência e tecnologia. Pirassununga, v. 4, n. 4, p. 148-165, mai. 2015.
DIAS, G.F. Influência de macro e micro fatores na adoção de práticas de TI Verde em instituições de Ensino Superior brasileiras: uma pesquisa à luz da Teoria da Crença-Ação-Resultado. Natal, f. 131, 2015. Dissertação (Mestrado em Administração) - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2015.
FAGUNDES, A.B.; SILVA, M.C. Produtos eletrônicos e suas dissonâncias: obsolescência, sustentabilidade, (Re) usos e descarte. Revista Meio Ambiente e Sustentabilidade. Curitiba, v. 6,
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<www.fatectq.edu.br/SIMTEC>.Acesso em: 09 de fevereiro de 2020.
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