segunda-feira, 21 de setembro de 2020

O lixo eletrônico como elemento de combate à pandemia de coronavírus

Saudações Ecológicas!

E se eu disser a vocês que a TI Verde é tão versátil a ponto de suas práticas serem úteis até para o combate à pandemia de coronavírus? Pois é. É exatamente sobre isso que você lerá agora em nosso blog.

Aos 25 anos, Lucas Lima, Engenheiro Mecânico residente do Complexo do Alemão / RJ, construiu sete impressoras 3D a partir de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, possibilitando a elaboração de 300 máscaras do tipo escudo facial que foram doadas a médicos e enfermeiros. Sua startup é extremamente promissora.


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No Alemão, combate à pandemia a partir de lixo eletrônico
Por: André Balocco em 11 de agosto de 2020


    Duas horas. Este foi o tempo que Lucas Lima, engenheiro mecânico de 25 anos e morador do Complexo do Alemão, precisou para fazer uma veterana impressora 3D Makerbot voltar a funcionar depois de anos parada. A história que o filho mais velho de cinco irmãos conta orgulhoso, ano passado, é emblemática. Às vésperas de se formar, precisava desesperadamente de um estágio para conseguir concluir o curso. O problema é que, além da economia em declínio, ele sempre esbarrava, nas entrevistas de emprego, em questões como boa aparência e local de moradia – algo tristemente comum para quem tem o tom da pele escura e mora em favela.



Lucas pediu ajuda aos professores da faculdade que cursava com uma bolsa e ganhou duas semanas para fazer a bichinha funcionar numa pequena salinha, em troca dos créditos. Saiu dela duas horas depois cheio de orgulho pela missão cumprida e certo que encontrara um novo caminho: empreender para jovens de comunidades como ele. Faltava apenas aprender a decifrar como. "Os professores ficaram impressionados, e eu entendi que poderia montar outras impressoras a partir de sucatas", conta ele. "Como não tinha a menor ideia de como empreender, fui estudar como poderia transformar este projeto em realidade"

        
     Um ano depois de sair da salinha, Lucas ostenta o título de professor de robótica institucional do Liceu de Artes e Ofício e de empreendedorismo de um colégio da Zona Sul do Rio. E ainda enfileira sete impressoras 3D construídas a partir de sucatas, uma coleção de imagens tipo busto de ídolos negros como Cartola e Sarah Vaughan e um projeto de escola de tecnologia dentro do Complexo do Alemão. Nele, tem certeza que irá espalhar conhecimento para jovens favelados que esperam apenas por uma oportunidade para mostrar seu potencial. "Iríamos começar em abril, já tinha um galpão sendo preparado e um patrocinador, mas veio a pandemia e tive de me recolher ao meu quarto", brinca Lucas, esperançoso de dias melhores.

       Enquanto não vira realidade a sua Infill - nome oficial da empresa - Lucas produz material de apoio para a construção de máscaras e impressos em suas 'filhas'. Ele mesmo comprou as peças restantes, que não saem em 3D, e as montou com a ajuda de amigos voluntários. Saiu com as 300 máscaras 'ShieldFaces' e as doou para profissionais da Clínica de Família e a UPA do Alemão, além de ONGs que atuam no complexo. "Rapaz, esta pandemia atrasou meu planejamento, mas não me parou. As apostilas do curso já estão prontas", diz ele, autor das mesmas. "Tivemos muitos casos de Covid aqui no complexo, a maioria deles sem confirmação oficial. Então fizemos o que tinha de ser feito".


        Aliás, a escolha do nome Infill é curioso. Lucas já tinha pronto o projeto para apresentar, entrou no programa Shell Iniciativa Jovem e pôs pra rolo com as aceleradoras. Precisando nomear sua joia, olhou para o led da impressora e nomeou sua startup de Infill, palavra que significa preenchimento - um parâmetro de impressão em 3D. Levou a premiação máxima da petroleira, em outubro passado, e ainda ficou entre os cinco melhores projetos de Iniciativa Jovem, ganhando fôlego para seguir em frente e transformar seu sonho em realidade. Seu projeto de reciclagem de sucata eletrônica transformada em impressora 3D - sustentabilidade na veia - também conquistou a Ambev, onde venceu o programa Start. Na ideia inicial, aulas trimestrais para 30 alunos. O que ele não contava é que aglomerações seriam problemas desde o início da pandemia causada pelo Covid-19. "Quero transformar o Alemão numa FabLab, fazer dessa favela uma espécie de Vale do Silício. Potencial não falta, mas agora preciso esperar.

        O abismo entre as escolas da Zona Sul, onde leciona, e os colégios estaduais, o impressiona. Lucas acredita que parte do desânimo da juventude com as aulas vem daí. O exemplo do sucesso de sua palestra em São Gonçalo não sai de sua cabeça. "Há um fosso imenso entre a realidade das escolas públicas e particulares. Não se ensina tecnologia nestas escolas e a juventude se desinteressa", avalia.

     Neste gap entra sua Infill. Nele, também cabe o sonho de preencher corações e mentes dos moradores do Alemão e, quem sabe, espalhar a ideia por outras favelas. Vontade não falta. Que venha logo o Pós-Pandemia...

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Fonte: https://projetocolabora.com.br/ods3/no-alemao-combate-a-pandemia-a-partir-de-lixo-eletronico/



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quarta-feira, 22 de julho de 2020

A situação do lixo eletrônico global está cada vez pior


Saudações Ecológicas!

Como já foi salientado em postagens anteriores neste blog, o gerenciamento dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos constitui-se - ao lado da gestão de energia elétrica - como uma das principais categorias de ação da TI Verde. Periodicamente, são envidados esforços contínuos para a atenuação desse problema, que é global.

Porém, a situação tem se mostrado cada vez pior. Até 2017, a humanidade produzia anualmente cerca de 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico (equivalente a 4.500 torres Eiffel!!); hoje, já são 53,6 milhões de toneladas produzidas a cada ano, das quais apenas 17,4% são - segundo dados oficiais de cada país - coletadas e recicladas adequadamente. E o resto? Bom, o resto ou não tem reciclagem adequada, ou é descartado irregularmente in natura ou não possui estatísticas oficiais.

Essas informações são provenientes do The Global e-Waste Monitor 2020, que em julho do presente ano ganhou uma nova edição. A última havia sido em 2017. 

Tenho estudado os dados apresentados pelo documento e a situação é realmente alarmante. Pretendo, na próxima postagem, trazer-lhes um resumo mais conciso sobre as informações relevantes que o documento apresenta, inclusive comparando com os dados de 2017. Por ora, deixo vocês com a versão em português da matéria publicada pelo Deutsche Welle sobre o quadro acima descrito. 






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Montanha de lixo eletrônico não para de crescer no mundo
Por: Deutsche Welle em 05 de julho de 2020



Se as regiões com a maior produção per capita de lixo eletrônico forem escurecidas num mapa mundi, ficará escuro na Europa, na América do Norte, na Austrália e na Nova Zelândia.

Um americano gera, em média, mais de 19 kg de lixo eletrônico por ano. Um alemão, cerca de 23 kg, e um norueguês, até mesmo mais de 28 kg.

Em todo o mundo são 53 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano, composto de todo tipo de aparelhos, como celulares, computadores, geladeiras e células fotovoltaicas, afirma o mais recente estudo sobre o tema, apresentado pela Universidade das Nações Unidas nesta quinta-feira (07).

A maior parte desses produtos vai parar no lixo - ainda que eles não sejam, nem de longe, sem valor. Dentro deles há, com frequência, materiais como ouro, prata, platina, cobre, ferro ou terras raras, no valor total estimado de 57 bilhões de dólares.

Mesmo assim, no ano passado menos de um quinto dessa montanha de lixo foi reciclada. O resto tem destino incerto. Em parte vai parar no lixo comum e acaba sendo largada num lixão ou queimada. Outra parte vai parar na mão de comerciantes que consertam eletrodomésticos e os revendem em países de renda per capita mais baixa do que as nações industrializadas.

Uma parte considerável desse lixo (estimativas afirmam que de 7% a 20%) é exportada de forma ilegal, sob o manto do reaproveitamento ou sob o pretexto de que se trata de sucata.

Assim, velhos equipamentos eletrônicos de países ricos vão parar em depósitos de lixo no Leste Europeu, na Ásia ou na África. Lá acabam sendo recolhidos e desmontados ou simplesmente queimados.

Esse desmonte ocorre sem o uso de luvas ou qualquer tipo de proteção. A queima também é perigosa, tanto para a saúde humana como para o meio ambiente, pois, além de materiais valiosos, eletrodomésticos também podem conter substâncias venenosas.

Todo o lixo eletrônico gerado no mundo contém cerca de 50 toneladas de mercúrio, 71 mil toneladas de produtos retardante de chamas bromados e 98 milhões de toneladas de CO2 equivalentes, afirma o estudo.

De todas as montanhas de lixo geradas no mundo, a dos eletroeletrônicos é a que cresce de forma mais rápida.

"Nos últimos cinco anos, a quantidade de lixo eletrônico cresceu três vezes mais rapidamente do que a população mundial e 13% mais rapidamente do que o PIB de todos os países", afirma o presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos, Antonis Mavropoulos.

"Há uma classe média crescente em muitos países que, há alguns anos, ainda eram típicos países em desenvolvimento. E neles há uma grande demanda reprimida", comenta Rüdiger Kühr, um dos autores do estudo e diretor do programa de ciclos sustentáveis da Universidade das Nações Unidas na Europa.

Além disso, há cada vez mais aparelhos elétricos, diz Kühr, mencionando como exemplos o carro elétrico, a bicicleta elétrica e até jogos de salão. E a velocidade com que novos computadores e celulares tiram do mercado os modelos antigos também aumenta.

Assim, a quantidade global anual de lixo eletrônico poderá passar para 74 milhões de toneladas em 2030, calcula o estudo. Isso poderá resultar em tragédia para o meio ambiente e para a saúde de muitas pessoas.

Kühr defende a criação de novos ciclos econômicos. Por exemplo, os consumidores não comprariam mais os produtos, mas o serviço por eles prestado. O produto continuaria sendo propriedade do fabricante.

Mas não precisa ser assim. Kühr afirma que a cota de reciclagem de eletrônicos poderia chegar a 100%. Mas o mundo está longe disso. Mesmo na Europa, onde se queria chegar a 65% em 2019, a cota atual é de 42%.

Como este teria interesse em oferecer o melhor serviço aos seus clientes, teria também interesse em oferecer bons produtos e em investir em inovações. Ele também teria interesse em fabricar produtos mais fáceis de serem consertados e de serem reciclados, pois venderia o serviço que o produto oferece e não o próprio produto.

Esse modelo já existe em alguns países, por exemplo com celulares ou máquinas copiadoras.

Kühr defende ainda que o consumidor exija dos fabricantes mais informações sobre os efeitos dos produtos sobre o meio ambiente e sobre a taxa de reciclagem deles. Essas informações já existem, mas não são utilizadas como argumento de compra.

"Acho espantoso que, no atual debate sobre as mudanças climáticas, no qual o setor automobilístico e a aviação civil fazem publicidade com iniciativas ambientais, a indústria de eletroeletrônicos deixe completamente de lado esse tema", diz Kühr.


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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Vivenciando a trágica realidade dos minérios de conflito

Saudações Ecológicas!

Esse assunto já foi tratado aqui no blog em outros momentos. Os minérios de conflito (tântalo, ouro, tungstênio e estanho) são minerais fortemente presentes em aparelhos eletrônicos cuja comercialização gera um grande retorno financeiro.

A África Central, sobretudo a República Democrática do Congo, detém 80% das reservas mundiais desses minerais. O que poderia ser uma benção a esse sofrido povo tornou-se uma maldição. A desumana combinação composta por elementos como a histórica colonização escravista, a omissão das grandes potências econômicas, a necessidade humana de subsistência, os governos autoritários regionais e a contínua ganância pelo poder, conduziram a morte de pelo menos 5 milhões dos nossos irmãos africanos em conflitos por esses minérios. Desde o final da década de 1990, com o aumento na demanda por aparelhos de Tecnologia da Informação, a África Central sofre o derramamento de sangue simplesmente por ser o principal berço dos minérios mais fundamentais à existência dessa indústria.

Em 2012, Suroosh Alvi, um dos fundadores do portal de reportagens e documentários Vice, resolveu vivenciar e documentar essa sombria realidade.

Confiram! 



Embora o documentário esteja em inglês é possível, caso prefira, ativar as legendas e traduzi-las para o português.


segunda-feira, 18 de maio de 2020

Como o mundo enfrenta o desafio de reciclar o lixo eletrônico


Saudações ecológicas!

Espero que todos estejam bem e cumprindo as regras do isolamento social que, embora afetem nossas relações sociais, são fundamentalmente necessárias para o combate ao COVID-19.

Vocês já estão saturados de notícias sobre o Coronavírus. Vamos agregar informações sobre outras áreas do conhecimento?

O artigo abaixo foi extraído do portal Olhar Digital (https://olhardigital.com.br/) e aborda os desafios da reciclagem dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos em todo o globo.

Vamos a ele?

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Como o mundo enfrente o desafio de reciclar o lixo eletrônico
Por: Roseli Andrion em 16 de maio de 2020

Essa é uma história que precisa ser contada a partir de vários lugares diferentes. Escolhemos 4, que representam diferentes estágios do problema e também das soluções.

A nossa primeira parada é no continente africano. Aqui, o gigantesco problema do lixo está sendo ainda mais agravado pela chegada do lixo eletrônico. E aqui é importante entender que esse lixo não é somente de smartphones ou computadores que perderam uso. Na África de hoje, até a energia solar virou um problema. Acontece que muitas casas receberam placas fotovoltaicas nos últimos tempos para gerar energia elétrica para populações carentes. Aí, essas placas se somaram aos celulares descartados irregularmente e às baterias, usadas para armazenar energia. O resultado? Uma explosão de lixo eletrônico ou ligado a produtos eletrônicos.

Segunda parada, Ásia. Mais especificamente, Japão. Aqui, num dos países mais modernos e conectados do planeta, o consumo de produtos eletrônicos é gigantesco. O país sempre aparece como o segundo ou terceiro maior mercado para esse tipo de produto em escala global. Mas, se os números de compra estão muito distantes da realidade africana, mais profunda ainda é a diferença quando o assunto é reciclagem. Por aqui, o descarte consciente desse tipo de produto está acima de 90%.

Na nossa terceira parada, um ambiente misto. A Europa apresenta uma mistura de realidades. Desde os países nórdicos, com seus altíssimos índices de reciclagem e descarte organizado, passando pela Alemanha, que participa do mesmo time, até chegar aos países mais pobres do sul, como a Grécia, em que a realidade é bastante diferente e - dá até para dizer - mais parecida com a de países emergentes.

Quarta parada, onde tudo começou. Boa parte da indústria de eletrônicos e, principalmente a indústria digital, nasceu por aqui, nos domínios do Tio Sam. Mas, isso não significa que eles tenham encontrado a solução para quando os aparelhos envelhecem. Aliás, um dos problemas por aqui é que faltam plantas de reciclagem. Apesar do país ter descarte consciente da maior parte do seu lixo eletrônico, boa parte dele precisa ser enviado para a China para a reciclagem. O custo de fazer isso por aqui não compensa. E um dos problemas atuais é que as relações entre chineses e norte-americanos estão estremecidas e um dos setores que já sentiu os efeitos da rusga é justamente o da reciclagem. Os chineses estão aumentando preços e até se recusando a receber os rejeitos gerados pelos norte-americanos. Uma situação que pode ter consequências sérias no médio e longo prazos.

Última parada: Brasil! O nosso país é um dos maiores consumidores mundiais de eletrônicos. Nem tanto porque haja tanto dinheiro aqui para consumo, mas as dimensões e o tamanho da população por si sós já garantem essa posição. Historicamente, o Brasil está sempre entre os 10 maiores mercados de consumo do planeta. Só que, no que diz respeito ao descarte e à reciclagem do lixo eletrônicos, nós temos vários problemas.

O primeiro tem a ver com o problema dos norte-americanos: não temos muitas indústrias capazes de reaproveitar os materiais retirados dos aparelhos: precisamos mandar boa parte para a China e outros países.

Depois, tem o problema cultural. Alex Pereira é presidente de uma cooperativa que dedica ao trabalho de reciclar lixo eletrônico. E ele entra nesse nosso panorama com uma mensagem positiva. Se as coisas melhoraram, uma parte do crédito precisa ir para a lei que trata do assunto. Mantendo a nossa tradição, somos bons para escrever leis. O problema é na hora de aplica-las...

Uma das melhores maneiras para transformar uma lei em um hábito é justamente levar informação para todo mundo que é afetado por ela. A cooperativa do Alex fica em São Paulo e tanto recebe quanto recolhe qualquer tipo de aparelho eletrônicos ou elétrico. Infelizmente, não existem tantas outras instituições como essa espalhadas por aí. A boa notícia é que, nesse caso, a lei pode e deve ser usada em nosso favor. Acontece que os fabricantes são obrigados a ajudar os consumidores a fazer o descarte correto de seus eletrônicos e eletrodomésticos. E não importa o tamanho: vale tanto para o celular quanto para a geladeira.

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segunda-feira, 13 de abril de 2020

A TI Verde e sua dimensão econômica

Saudações ecológicas!

Desde já, espero que todos vocês estejam seguindo os protocolos de proteção nesse combate à COVID-19. Lembrem-se que proteger-se é também proteger a coletividade na qual você está inserido(a)!

E, enquanto essa turbulência não passa, vamos falar sobre TI Verde? :)

Vamos!

Hoje gostaria de apresentar-lhes, de forma detalhada, como a TI Verde pode auxiliar na economia. O conteúdo desta postagem foi extraído e adaptado do "Guia Didático para o Ensino de TI Verde", escrito por mim e que dentro em breve será lançado.

Vem comigo!

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Conforme explicam Barsano e Barbosa (2019), o desenvolvimento sustentável é também um modelo de progresso econômico. Seu estabelecimento no mundo dos negócios mediante compromissos concretizados em conferências internacionais sobre o meio ambiente, incentivam que as empresas implementem, em seus processos de produção e nos seus serviços, programas de gestão que estejam condizentes com a sustentabilidade ambiental e, ao mesmo tempo, atendam às metas de rentabilidade financeira dos grupos empresariais.

À medida que cresce a conscientização ambiental da coletividade, crescem também as pressões sociais para que as empresas adotem atitudes mais verdes em seus procedimentos. Consequentemente, o mercado também atua "selecionando" as empresas que melhor adaptam-se às novas exigências ambientais. São analisados não apenas o cumprimento das leis vigentes mas também as iniciativas espontâneas em prol do meio ambiente. Atualmente, a aceitação social de uma empresa passa pelo comprometimento ambiental que ela demonstra, sendo este avaliado por indicadores que comprovem, tanto para a comunidade em geral como para as partes interessadas (stakeholders), sua responsabilidade socioambiental. Oliveira (2014) afirma que o indicador de sustentabilidade da Dow Jones (Dow Jones Sustainability Index - DJSI), criado em 1999, foi o primeiro com o objetivo de mensurar a sustentabilidade ambiental de empresas. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo lançou, em 2005, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), usando como modelo o DJSI mas focado no mercado de ações brasileiro. Tais índices reportam aos stakeholders se o modelo de gestão das empresas e o comprometimento destas com fatores ambientais são passíveis de proporcionar investimentos. Em suma: a responsabilidade socioambiental é percebida pelas empresas tanto para a sua própria sobrevivência como também para obtenção de vantagem competitiva.

A adoção de uma gestão ambiental organizacional baseada, por exemplo, em normas como a ISO 14001, para além do diferencial competitivo, oferece às empresas também: melhoria organizacional, a partir da conscientização dos funcionários e do relacionamento de parceria com a comunidade; minimização dos custos, evitando o desperdício de matéria-prima; minimização dos riscos, atentando-se para procedimentos que reduzam a possibilidade de acidentes ambientais. Alguns conceitos passaram a fazer parte do cotidiano empresarial, como, por exemplo a ecoeficiência, a ecoeficácia, a ecorresponsividade e a ecolegitimidade.

A ecoeficiência diz respeito à entrega de bens e serviços com preços mais competitivos que satisfaçam, ao mesmo tempo, as necessidades humanas e a qualidade de vida, a sustentabilidade ambiental e a redução de custos. O decréscimo no uso de energia elétrica, o apoio à reciclagem, o aumento da durabilidade dos produtos, o uso de equipamentos sustentáveis e a diminuição na produção de resíduos são algumas medidas que caracterizam a ecoeficiência. A ecoeficácia, por sua vez, tem ligação com os valores e as crenças da empresa na obtenção de resultados sociopolíticos aliados às perspectivas ambientais. A ecorresponsividade corresponde à melhoria da qualidade ambiental de uma empresa como forma de responder aos anseios ou ações dos concorrentes, clientes e fornecedores. Por fim, a ecolegitimidade refere-se ao conjunto de ações sustentáveis tomadas por uma empresa devido às pressões políticas e sociais às quais ela está exposta. Se o que esses conceitos representam pudessem ser colocados em vetores, teríamos algo semelhante à figura abaixo. 

A TI Verde surge exatamente da inquietação do setor empresarial na busca pelo uso ou produção de equipamentos de TI mais sustentáveis. Como explica Mansur (2011), a busca pelo ponto de equilíbrio entre a sustentabilidade dinâmica do negócio e a gestão da Tecnologia da Informação, ensejou o surgimento de uma governança em TI Verde com o objetivo de atender às necessidades organizacionais sem comprometer negativamente o meio ambiente. A redução do desperdício e o aumento da eficiência dos processos e fenômenos vinculados à operação de computadores fazem parte da governança em TI Verde. Lunardi, Frio e Brum (2011) explicam que a adoção da TI Verde pelas organizações empresariais, além de reduzir a emissão de gases, ajudar na conservação de energia e controlar o descarte incorreto de aparelhos informáticos, também auxilia na minimização das perdas, cortando gastos operacionais e aumentando a produtividade dos funcionários. Além disso, as campanhas de publicidade - direcionadas a uma sociedade que crescentemente prefere empresas socialmente responsáveis -, a redução de taxas e impostos oferecidos por órgãos governamentais às organizações que investem em tecnologias verdes e os investimentos por outras empresas que queiram vincular sua imagem à sustentabilidade ambiental, são algumas das vantagens obtidas pelas organizações que implementam a TI Verde em sua rotina.

Ferreira (2012) reforça essa perspectiva afirmando que a viabilidade econômica, o impacto ambiental e a responsabilidade social presentes nos produtos de Tecnologia da Informação, promovem uma espécie de "competição verde" entre as empresas do ramo. Para adaptarem-se à competição, é natural que as organizações busquem produzir aparelhos cada vez mais eficientes em energia e durabilidade.

Como exemplo é possível citar o estudo exploratório-descritivo de Lunardi, Simões e Frio (2014), no qual os autores identificaram 202 anúncios publicados entre os anos de 2006 e 2011 que possibilitaram a categorização de algumas práticas em TI Verde desenvolvidas por empresas. Porém, além disso, os pesquisadores apontaram também diferentes benefícios empresariais associados a cada prática. Dentre esses ganhos, destacam-se: a) redução de custos; b) redução do consumo de energia; c) economia de espaço; d) imagem institucional; e) economia de papel; f) redução de emissão de gases; g) redução de insumos; h) redução do lixo eletrônico; i) maior ciclo de vida dos produtos. Para complementar esses dados leia esta postagem feita no ano passado: https://tiverdeifs.blogspot.com/2019/08/ti-verde-5-dicas-para-tornar-sua.html.

Conforme Mansur (2011), o desenvolvimento da governança em TI Verde compreende a superação de desafios de curto e médio prazo. Os desafios de curto prazo correspondem ao aumento da efetividade do consumo de energia dos equipamentos digitais, de modo a gerar economia em dinheiro, eletricidade e natureza. Nesse sentido é possível trazer alguns exemplos. A Hewlett-Packward (HP) foi a primeira grande empresa de TI a reportar as emissões de gases de efeito estufa provenientes de sua cadeia produtiva. Como uma das soluções, desde o início dos anos 2000 tem modificado todo seu parque tecnológico e toda sua linha de produção, priorizando o uso e a fabricação de aparelhos que demandem menos energia elétrica. A Dell, uma das maiores fabricantes de computadores de todo o mundo, utiliza 100% de energia renovável em sua sede em Round Rock, Texas. Nas demais unidades nos Estados Unidos, economizou cerca de 35% de energia elétrica. Nas suas filiais pelo mundo, conseguiu diminuir em 20% o consumo de energia elétrica instalando fontes renováveis de energia. Ao longo dos anos 2000, conseguiu inserir pautas ambientais em seus procedimentos de gestão: entre 2005 e 2007, a Dell dobrou suas fontes de energia limpa; em 2007 lançou um sistema que possibilita aos seus clientes o plantio de árvores para compensar as emissões tóxicas provenientes do consumo de seus computadores; até 2010, os desktops e laptops por ela produzidos consumiriam 25% a menos de energia elétrica; implementou planos para manter o equilíbrio de carbono ao longo da década de 2010.

A Intel, multinacional empresa de tecnologia situada em Santa Clara, Califórnia, é o maior comprador de organizações com foco em energias renováveis nos Estados Unidos, representando 46% do mercado de compras de energias limpas neste país. No desenvolvimento dos seus produtos, prioriza-se a eficiência energética. Tem também como intuito reduzir o consumo de energia dos chips por ela fabricados.

O Banco Itaú implementou um sistema de videoconferências, mediante o qual são realizadas cerca de 200 reuniões virtuais por mês nas quais estão presentes funcionários de várias unidades do Brasil além de convidados. Antes da implementação desse sistema, gastava-se dinheiro no transporte dos trabalhadores para reuniões presenciais e consequentemente poluía-se ainda mais a atmosfera pela emissão de gases de efeito estufa provenientes dos veículos utilizados no processo. Com a digitalização das reuniões, houve uma economia de 80 toneladas de dióxido de carbono que seriam emitidos pelos carros.

O gerenciamento do uso de energia dos computadores deve ser algo estratégico em empresas. O custo potencial de energia e a emissão de gases de efeito estufa pelas organizações podem ser diminuídos em até 50% com medidas simples como, por exemplo, desligar monitores e impressoras após o seu uso ou utilizar cores mais escuras como plano de fundo da tela do computador. Mansur (2011) traz um exemplo prático: o  autor explica que ao configurar a tela do monitor para cores mais escuras, economiza-se anualmente cerca de R$102,00 por computador; em uma base corporativa de 2.000 monitores tem-se, por ano, uma economia de R$204.000,00; em cinco anos, sem nenhum investimento, a empresa terá um retorno de mais de um milhão de reais!
A eficiência energética do datacenter também ocasiona o retorno financeiro. A virtualização diminui o número de servidores físicos, resultando em redução nos custos com energia elétrica para mantê-los funcionando, economia de tempo, ganho de espaço físico e agilidade no processamento das informações. A Universidade de Vanderbilt, localizada no Tennessee-EUA, ao adotar a virtualização dos seus servidores economizou por hora 20.575 watts, servindo de exemplo para que autoridades locais elaborassem planos de virtualização de 80% dos servidores da região. A Revlon, empresa estadunidense de cosméticos, virtualizou seus servidores o que permitiu uma economia de 72% no consumo de energia elétrica. A Sun Microsystems, antes de ser adquirida pela Oracle Corporation, tinha virtualizado seus servidores obtendo uma diminuição de 11 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, representando uma redução na emissão desse gás em 6% e uma economia de 1 milhão de dólares em seus custos finais com eletricidade. Seu espaço físico aumentou em 66% uma vez que os servidores físicos deixaram de ocupá-lo. No Brasil, estima-se que a computação em nuvem, entre os anos de 2014 e 2017, cresceu 74,3%, gerando um faturamento de US$ 798.000.000,00 no final de 2015 (DIAS, 2015).

Voltando aos desafios postos por Mansur (2011), aqueles que encontram-se a médio prazo na governança em TI Verde correspondem à necessidade de existir uma estrutura organizacional corretamente preparada para conduzir o descarte dos aparelhos que tornaram-se obsoletos. Em suma: é o gerenciamento dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, que devem ter seu manejo prioritariamente executado pelas empresas que os produzem. Antes de observarmos alguns exemplos, é necessário ter em mente certas informações. De acordo com o The Global e-waste Monitor (2017), uma grande variedade de materiais valiosos estão contidos em aparelhos elétricos e eletrônicos. Pelo menos 60 elementos da tabela periódica podem ser encontrados em eletrônicos complexos, e muitos deles são tecnicamente recuperáveis, embora existam limites econômicos estabelecidos pelo mercado. Como já foi visto em outras postagens do blog, o lixo eletrônico contém metais preciosos, incluindo ouro, prata, cobre, platina e paládio, mas também contém materiais volumosos igualmente valiosos, como ferro e alumínio, além de plásticos que podem ser reciclados. No geral, a Universidade das Nações Unidas estima que a perspectiva de recursos para matérias-primas secundárias de lixo eletrônico vale 55 bilhões de euros! Levando em consideração apenas os smartphones, seriam 9.4 bilhões de euros! Colocando em números absolutos, das 44,7 milhões de toneladas de lixo eletrônico produzidos pela humanidade temos: 3.582 milhões de euros em ferro; 9.524 milhões de euros em cobre; 3.585 milhões de euros em alumínio; 884 milhões de euros em prata; 18.840 milhões de euros em ouro; 3.389 milhões de euros em paládio; 15.043 milhões de euros em plástico.

Diferentemente da economia linear, na qual os recursos naturais são extraídos, transformados em matéria-prima, manufaturados, distribuídos, usados ou consumidos e descartados, a noção de economia circular se faz necessária para que o valor inerente aos resíduos retorne à cadeia produtiva, auxiliando também na diminuição da quantidade de lixo eletrônico. A economia circular é um elemento chave para o desenvolvimento sustentável.


Dito isso, observemos alguns exemplos de governança em TI Verde no que tange ao gerenciamento de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos. A Hewlett-Packward (HP) transforma parte dos seus cartuchos em material reutilizável e projeta impressoras e scanners para receber a matéria-prima reciclada, o que permite com que cerca de 20% da matéria-prima venha de resíduos do próprio processo produtivo da empresa. Também prioriza em seus procedimentos o sistema de "take back", semelhante ao trade-in, no qual o cliente paga uma taxa embutida no produto que garante a devolução e reciclagem do material. A meta da HP é reciclar e reutilizar, por ano, 450.000 toneladas de produtos eletrônicos. Em média, seus notebooks são até 90% recicláveis ou recuperáveis.

A IBM, que possui políticas de reciclagem, recebe cerca de 1.000 unidades de equipamentos eletrônicos por ano. A empresa também é certificada pela ISO 14001. Os processos de trade-in são contemplados pela empresa e funcionam da seguinte forma: os produtos entregues são separados em commodities (materiais recicláveis como plásticos e metais) e vendidos para fornecedores ambientalmente confiáveis; outros materiais são separados e tratados, como baterias e monitores. As placas de circuito impresso são recicladas e delas são retirados os metais preciosos.

A Itautec S/A, empresa já fechada que fabricava equipamentos de TI e materiais de automação bancária, possuía uma política de coleta e reciclagem de computadores obsoletos, tendo reciclado cerca de 460 toneladas de material eletrônico da própria empresa em 2008. Seu programa de sustentabilidade previa a recompra de equipamentos para reciclagem, eliminação do chumbo durante a fabricação dos equipamentos e otimização no estoque para economizar embalagens. No ano de 2007 foi construído na sede da Itautec, em São Paulo, um centro de reciclagem de 715 m² com um investimento de R$350.000,00.

A Positivo Informática, maior fabricante de computadores no Brasil, iniciou sua política ambiental de gestão de resíduos eletrônicos no início dos anos 2000. Dentre as medidas adotadas destacam-se o aproveitamento de materiais de reciclagem para fabricação de computadores, o consumo de fontes alternativas de água e energia e o reaproveitamento dos materiais da própria empresa. Em 2008, a empresa criou uma fábrica de placas-mãe livres de chumbo e adotou embalagens de papel reciclado. Além disso, realiza periodicamente uma análise do ciclo de vida dos produtos, que contempla etapas de extração e processamento de matérias-primas, fabricação, embalagem, transporte, distribuição, utilização, reciclagem e reuso até o descarte final.

A Apple também possui uma política ambiental e empenha-se na eliminação do mercúrio utilizado em telas com iluminação, no processamento do lixo eletrônico e na substituição do PVC em diversos materiais. Além da Apple, a Dell, a Microsoft, a Ericson e a Philips criaram diversos projetos ambientais para padronizar globalmente seus procedimentos de reciclagem e reutilização de REEE. No Brasil, a TIM, a Vivo e a Claro possuem programas sustentáveis de coleta e reciclagem tanto de telefones celulares como de componentes agregados como baterias e carregadores.

A redução no uso de papel e atitudes gerenciais com impressões também são ações estratégicas para empresas. A Xerox Corporation estimula financeiramente seus revendedores a recolherem o material que comercializam. Mensalmente, o centro de reciclagem da Xerox trabalha 115 mil toneladas de REEE. A Epson, por sua vez, possui mais de 150 pontos autorizados no Brasil para que seus usuários devolvam cartuchos sem utilização ou outros materiais de impressão de modo que estes sejam reciclados ou reutilizados. A Boehringer, indústria farmacêutica de origem alemã, reduziu em 50% o montante de papel utilizado pela empresa de uma forma simples: monitorando as impressões a partir da utilização do crachá do funcionário para que a máquina autorize a impressão. Sem o crachá, não se imprime. Ademais, cada funcionário teria um limite de impressões por dia. A digitalização é outro caminho para economia de papel, que pode reduzir em até 30% os custos de impressão. A General Motors desenvolveu uma economia de 11 mil árvores em 5 anos ao adotar em larga escala a digitalização. A redução das impressões passou de 6 milhões de páginas mensais para 2,7 milhões. Além da digitalização, a General Motors passou a descontar do salário de cada funcionário as unidades de folhas individualmente impressas.

Visando reduzir o gasto do dinheiro público, o Senado Brasileiro buscou uma política de controle de impressões em sua gráfica. Entre os anos de 2011 e 2014, foi economizado 1.3 milhão de reais nas despesas com matéria-prima, especialmente em relação à aquisição de papel para impressão. Entre 2011 e 2012 a economia foi de R$441.600,00; já entre 2012 e 2013 economizou-se R$ 817.000,00. De acordo com a matéria publicada no portal Senado Notícias (https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2015/07/17/grafica-do-senado-reduz-consumo-de-papel-e-economiza-r-1-3-milhao-em-quatro-anos), o último levantamento indicou uma economia de R$128.200,00.

Os exemplos apresentados são apenas alguns dentre tantos outros que são passíveis de citação. Recomendo também, em caráter de complementaridade, as postagens "Guia de Eletrônicos Verdes" (https://tiverdeifs.blogspot.com/2019/09/guia-de-eletronicos-verdes.html) e "Fairphone: um caso de ética e sustentabilidade ambiental na TI" (https://tiverdeifs.blogspot.com/2019/09/fairphone-um-caso-de-etica-e.html).

REFERÊNCIAS

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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

TI Verde: normas, leis, certificações e regulamentações ambientais

Na TI Verde é fundamental que se adotem medidas que orientem os consumidores e usuários em geral sobre o uso dos equipamentos de forma sustentável e indiquem se o produto em questão atende aos pré-requisitos ambientais como a biodegradabilidade, a retornabilidade, o uso de materiais recicláveis e a ecoeficiência energética (DIAS, 2015). Normas, leis, certificações e regulamentações ambientais são criadas com base em órgãos internacionais e caracterizam-se por serem um conjunto de padrões de processos nas cadeias produtivas que culminam na qualidade do produto final de forma não prejudicial ao meio ambiente (GIANELLI, 2016). Sem a intenção de esgotar todas as legislações diretas ou indiretas sobre TI Verde, observemos algumas.

A partir da década de 1980 começaram a existir deliberações legais mais enfáticas sobre o meio ambiente e que foram precursoras do que futuramente seria a base conceitual da TI Verde. O Protocolo de Montreal (https://www.unenvironment.org/ozonaction/who-we-are/about-montreal-protocol) é uma delas. A camada de ozônio, que nos protege da radiação solar, é afetada pelas emissões do gás clorofluorcarboneto (CFC) e de outras substâncias halogenadas. Tais compostos compunham o processo de fabricação de extintores de incêndio, solventes orgânicos, aerossóis, gases de refrigeração, alguns componentes de computadores, carregadores de celular e peças de televisores. Em 1987, 47 países aderiram ao supracitado protocolo e se dispuseram a reduzir em mais de 80% na utilização desses agentes nocivos. Conforme Barsano e Barbosa (2019), entre 1990 e 1999 o tratado passou por uma série de revisões com a inclusão de outras substâncias igualmente agressivas à camada de ozônio.

Outro importante tratado internacional é o Protocolo de Kyoto (https://unfccc.int/resource/docs/convkp/kpeng.pdf). Visando estabelecer metas para diminuição de gases poluentes em países industrializados e ratificar controles sobre outras potenciais ações poluidoras, o Protocolo de Kyoto foi discutido e negociado na cidade japonesa de mesmo nome em 1997. Em dezembro do mesmo ano, houve a coleta das assinaturas e sua ratificação se deu em março de 1998. Para que o tratado pudesse entrar em vigor, era necessário que dos 84 países que assinaram o acordo, ao menos 55 o ratificassem. Muitos não o fizeram alegando a defesa de seus interesses econômicos e políticos. O então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, foi o maior exemplo disso. Apenas em fevereiro de 2005 o tratado entrou em vigor com uma meta precípua: diminuir a temperatura global entre 1,5ºC e 5,8ºC até o final do século XXI. Para isso, o documento sugere: 1) aumento do uso de energias limpas; 2) proteção de florestas e áreas verdes; 3) redução drástica nas emissões de metano provenientes de aterros sanitários e lixões; 4) estabelecimento de regras para emissão de créditos de carbono.

Quanto aos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos, Santos (2016) explica que foi a partir de 1994 que os países pertencentes à União Europeia começaram a implementar legislações objetivando gerenciar o aumento crescente do e-waste. No entanto, apenas no início dos anos 2000 veio a lume uma norma pioneira que tornou-se base para muitos países quando o assunto é prevenção, diminuição e descarte ambientalmente amigável do lixo eletrônico. A Waste Electrical and Electronic Equipment ou WEEE (Diretiva 2002/96/CE), entrou em vigor em fevereiro de 2003. Em sua primeira versão a diretiva já previa a criação de esquemas de coleta nos quais os consumidores devolveriam gratuitamente seus equipamentos eletrônicos já utilizados com o objetivo de aumentar a reciclagem, a recuperação e a reutilização de REEE. Definia-se também o compromisso dos fabricantes perante o recolhimento e o destino apropriado dos seus equipamentos ao final de sua vida útil (NETO; FAXINA, 2012). Em dezembro de 2008, a Comissão Europeia propôs a revisão da diretiva para enfrentar o ainda crescente fluxo de lixo eletrônico. A nova Diretiva WEEE 2012/19/UE foi publicada em 13 de agosto de 2012 e entrou em vigor em 14 de fevereiro de 2014 com um escopo ainda maior como, por exemplo: o aumento das cotas de devolução e coleta para fabricantes; a definição do que é uma instituição produtora de eletrônicos; as obrigações mais rigorosas sobre a devolução de REEE inclusive para usuários e a necessidade de nomeação de um representante autorizado por empresa que seja responsável pela coleta dos materiais já utilizados. 

Atuando em conjunto com a WEEE, a Restriction of Certain Hazardous Substances ou RoHS é uma legislação da União Europeia que entrou em vigor em 2003 (Diretiva RoHS 2002/95/CE) restringindo o uso de substancias perigosas em equipamentos elétricos e eletrônicos. Ela exige que metais pesados como chumbo, mercúrio, cádmio e cromo hexavalente, além de retardadores de chamas como bifenilas polibromadas e éteres difenil-polibromados, sejam substituídos por alternativas mais seguras. Em dezembro de 2008, a Comissão Europeia propôs a revisão da diretiva. A nova RoHS (Diretiva RoHS 2011/65/UE) entrou em vigor em 3 de janeiro de 2013. Nela, Gianelli (2016) explica que aborda-se de forma mais abrangente questões de regulamentação e aspectos legais sobre a produção de aparelhos informáticos além de trazer uma lista com 80 exceções aplicadas ao uso de substâncias perigosas. O autor ainda afirma que as próximas versões da RoHS pretendem incluir os retardantes de chamas bromados, clorados além do Policloreto de Polivinila (PVC) na lista de substâncias perigosas. A RoHS também é conhecida como a regulamentação do "lead-free", ou seja, livre de chumbo. E é nisto que residiu seu maior desafio quando de sua implementação. Por causa dela, os fabricantes de equipamentos eletrônicos tiveram que elaborar novos métodos de solda que não possuíssem chumbo em sua composição. A solda tradicional possui cerca de 63% de estanho e 37% de chumbo.

São as soldas que fixam fios e outros componentes eletrônicos nas placas de circuito impresso. Nas novas técnicas alternativas após a RoHS, outros elementos como prata, cobre e bismuto passaram a ser utilizados. Porém, há alguns complicadores de ordem físico-química dentre os quais o ponto de fusão é um dos principais: a solda tradicional (estanho + chumbo) se funde a 183ºC; os componentes eletrônicos, sensíveis à temperatura, suportam até 250ºC; ou seja, há uma margem boa do ponto de fusão da solda tradicional e da capacidade térmica das peças eletrônicas; no entanto, as soldas sem chumbo costumam fundir a um ponto entre 221ºC e 223ºC; logo, a margem diminui e coloca em risco o bom funcionamento dos eletrônicos quando da montagem do aparelho. Uma alternativa que está sendo utilizada é a liga de 99,7% de estanho e 0,3% de cobre, cujo ponto fusão é um pouco menor dentre as novas soldas. 

As políticas e as legislações nacionais de lixo eletrônico desempenham um papel importante porque estabelecem padrões e controles para governar as ações das partes interessadas associadas ao lixo eletrônico nas esferas pública e privada. As diretivas WEEE e RoHS foram adotadas como exemplos para o resto do mundo, que ainda tenta se adaptar ao avanço do lixo eletrônico. À luz do The Global e-waste Monitor (2017), até janeiro de 2017, 4.8 bilhões de pessoas em 67 países encontravam-se amparadas por legislações nacionais sobre e-waste, o que corresponde a 66% da população mundial. Isso foi considerado um avanço tomando por base o ano de 2014, quando 61 países possuíam legislações sobre REEE, cobrindo apenas 44% da população global




Pelo pioneirismo, é no continente europeu onde a legislação sobre o lixo eletrônico encontra-se em maior grau de desenvolvimento com 100% dos países dotados de leis específicas para REEE. Outros países com reciclagem e coleta de lixo eletrônico concretizadas em lei estão na América do Norte (100% dos países), Leste da Ásia (100% dos países), América Central (76% dos países) e Sul da Ásia (73% dos países). Austrália e Nova Zelândia, juntas, possuem 85% do território coberto por legislações locais sobre REEE. Por outro lado, em várias regiões a legislação nacional sobre lixo eletrônico está completamente ausente como no Norte e no Sul da África, na Ásia Central, na Melanésia, na Polinésia e na Micronésia

É evidente que cada legislação nacional sobre REEE adapta-se às especificidades da sua própria região. Porém, há três princípios básicos que regem-nas: 1) os fabricantes devem ser incentivados a melhorar o design ambiental de seus produtos e o desempenho ambiental do fornecimento destes; 2) a obsolescência deve ser evitada e os produtos devem ter uma alta taxa de utilização; 3) os materiais devem ser preservados por meio da coleta, tratamento, reutilização e reciclagem eficazes e ambientalmente correta. Em suma: produtores e fabricantes devem ser os principais responsáveis pelo pós-consumo para que se evite os impactos ambientais do descarte irregular.

Segundo Neto e Faxina (2012), desde 1996 as organizações e as empresas de variados portes têm à disposição um instrumento validado e reconhecido em mais de uma centena de países. Essa ferramenta auxilia as organizações no controle dos aspectos ambientais decorrentes de suas atividades com o objetivo de reduzir os impactos ambientais que elas possam causar. A ferramenta em questão é a norma ISO 14001. No Brasil, ela é editada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), tendo sua primeira versão publicada em 31 de dezembro de 2004 e validada a partir de 31 de janeiro de 2005 (SCHWANKE, 2013). A mais recente versão da ISO 14001 foi lançada em setembro de 2015. Sendo uma das normas da série ISO 14000, a ISO 14001 tem como finalidade equilibrar a proteção ambiental e a prevenção da poluição com as necessidades socioeconômicas. Neto e Faxina (2012) explicam que ela fornece elementos de um Sistema de Gestão Ambiental para empresas que desejem planejar, organizar e executar suas atividades em conformidade com diretrizes ambientalmente corretas. Ela se baseia no quarteto PDCA: Plan (planejar); Do (fazer); Check (checar); Action (agir). Em Planejar, são estabelecidos os princípios e os processos obrigatórios para se atingir os resultados de acordo com a política ambiental da empresa; em Fazer, os procedimentos são implementados; em Checar, monitora-se e mensura-se a conformidade dos procedimentos em relação à política ambiental da empresa, as metas e os requisitos legais; finalmente, em Agir, atua-se para corrigir os possíveis erros e fomentar uma melhoria contínua no desempenho da gestão ambiental. Especificamente em relação à gestão de Tecnologia da Informação, a ISO14001 atesta a responsabilidade da organização em relação à eficiência econômica e ambiental nas operações com a demanda energética e com a geração de resíduos eletrônicos.

Retornando às preocupações globais com o aumento da temperatura no planeta, a ONU promoveu, entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro de 2015, a 21ª Conferência das Partes (COP21). O objetivo principal foi discutir e estabelecer como meta um aumento das temperaturas médias globais em torno de 1,5ºC, um limite inferior aos 2ºC em relação à era pré-industrial (BARSANO; BARBOSA, 2019). Dessa discussão emergiu o Tratado (ou Acordo) de Paris (https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2016/04/Acordo-de-Paris.pdf), uma regulamentação que possui força de lei internacional mas que ainda não atingiu o mínimo necessário para entrar em vigor: a ratificação de pelo menos 55 países signatários responsáveis pela emissão de 55% dos gases de efeito estufa (GEE). O Brasil ainda não assinou mas comprometeu-se em reduzir, até 2025, as emissões de GEE em 37% do que era emitido em 2005; e em reduzir, até 2030, as emissões de GEE em 43% do que era emitido em 2005. Tudo isso passa necessariamente por uma redução no consumo energético, o qual a Tecnologia da Informação tem relação direta.

De acordo a International Energy Agency (IEA), dados atualizados até janeiro de 2020 indicam que os instrumentos regulatórios nacionais sobre energia elétrica limpa e renovável estão presentes em todos os continentes. No entanto, não há uma certeza de que os países que os possuem estejam seguindo-os à risca. À luz de informações colhidas no portal da IEA (https://www.iea.org/policeis), a Europa possui 79 legislações nacionais sobre energia elétrica limpa, seguida da Ásia com 48, América do Sul e Central com 35, África (principalmente na parte norte e na África do Sul) com 26, a América do Norte com 18 e a Oceania com apenas 6 regulamentações (5 australianas e 1 neozelandesa).

Já no Brasil, as legislações ambientais que possuem alguma influência no desenvolvimento da TI Verde datam de 1981 com a disposição da Lei nº 6.938 de 31 de agosto. Essa lei corresponde à Política Nacional de Meio Ambiente (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm), seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. É a lei ambiental mais importante do Brasil. Ela objetiva preservar, melhorar e recuperar a qualidade ambiental propícia à vida que possibilite o desenvolvimento socioeconômico brasileiro assegurando a dignidade da vida humana. Nela, é possível notar também sua ênfase em buscar o desenvolvimento de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais, o que implica diretamente na TI Verde.

Em 1988, a proteção ao meio ambiente passa a receber um tratamento específico, objetivo e global em nossa Carta Magna. Diferentemente das versões anteriores - que trataram da questão ambiental de modo diluído e casual - a Constituição Federal de 1988 apresentou aos brasileiros uma defesa consistente ao meio ambiente. Barsano e Barbosa (2019) explicam que a alusão direta à causa ambiental pela nova Constituição foi importante para que surgissem diversos instrumentos normativos (leis, decretos, resoluções e portarias) que propusessem assegurar, na prática, um ambiente saudável para todas gerações. Apesar de haver aspectos ambientais em artigos diversos (Art. 5; Art. 23; Art. 24; Art. 170; Art. 174; Art. 200), a Constituição Federal do Brasil de 1988 traz um capítulo inteiro só sobre o meio ambiente. O capítulo em questão é o de número VI e ele é composto por apenas um artigo, o de número 225. Neste artigo, enfatiza-se o meio ambiente como de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, sendo dever do Poder Público e da coletividade dos cidadãos defendê-lo para que seja preservado para as próximas gerações. Ao prever o controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias que tragam risco à vida, à qualidade de vida e ao meio ambiente (inciso V do parágrafo 1º), o artigo 225º oportuniza a TI Verde.

Depois da Constituição de 1988, outras normativas surgiram, das quais, para nossos objetivos neste Guia, é possível citar: a Lei nº 8.666 de 21 de junho de 1993, que versa sobre compras sustentáveis na esfera da administração pública; ratificando o que foi acordado no Tratado de Montreal, a Resolução nº 13/1995 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) - posteriormente complementada pela Resolução CONAMA nº 267/2000 - dispôs sobre a proibição da comercialização e das práticas envolvendo substâncias que contivessem ou produzissem substâncias nocivas à camada de ozônio; a Resolução CONAMA nº 257/1999, que estabeleceu a obrigatoriedade de procedimentos de reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final de pilhas e baterias que contivessem chumbo, cádmio, mercúrio e seus compostos; a Lei nº 10.295 de 17 de outubro de 2001, que cria a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, dando também outras providências; o Decreto nº 5.940/2006 que institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta (com ênfase aos materiais de TI), na fonte geradora e a sua destinação a associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis; a Lei nº 12.187 de 29 de dezembro de 2019, que institui a Política Nacional de Mudanças Climáticas , tratando do controle e da redução de gases poluentes na atmosfera; a Resolução CONAMA nº 436/2011, que estabelece os limites máximos de emissão de gases poluentes atmosféricos provenientes de fontes fixas, prevendo a adoção de tecnologias de controle de emissão de poluentes atmosféricos técnica e economicamente viáveis, acessíveis e já desenvolvidas em escala que permitam sua aplicação prática.

Talvez a principal legislação ambiental pós-1988 que mais impactou o universo da TI Verde no Brasil foi a Lei 12.305 de 2 de agosto de 2010. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm) procurou uma aproximação com a Diretiva europeia WEEE, estabelecendo um conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações com vistas à gestão integrada do gerenciamento dos resíduos sólidos. Segundo Barsano e Barbosa (2019), esta Política traz como características fundamentais: a responsabilidade compartilhada entre poder público, fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e usuários finais; a implantação do sistema de coleta seletiva pública; definição dos princípios do poluidor-pagador e do protetor-recebedor; incentivos econômicos para iniciativas com responsabilidade ambiental; inclusão socioeconômica dos catadores de lixo por meio de cooperativas; adoção e estruturação do sistema de logística reversa.

Por fim, é válido tratar sobre a rotulagem ambiental. Barsano e Barbosa (2019), em concordância com a norma ISO 14020, definem rotulagem ambiental como certificações ou reconhecimentos a produtos adequados ao uso e consumo que manifestem menor impacto sobre o meio ambiente em comparação a outros artigos equivalentes disponíveis no mercado. Para as finalidades deste Guia, observemos algumas rotulagens ambientais que possuem vínculo com a TI Verde. 

O The Blue Angel é um selo alemão registrado no Ministério do Meio Ambiente deste país desde 1978. Segundo Pontes (2015), corresponde à mais antiga certificação de produtos e serviços que possuem características ambientalmente corretas e amigáveis. Pelo pioneirismo, outros países europeus também o acompanharam e criaram suas próprias etiquetas ambientais com o objetivo de trazer ao consumidor uma informação fundamental sobre quais mercadorias são ambientalmente não agressivas, além também de incluir em seu escopo produtos e serviços que priorizem a economia de energia. O The Blue Angel está presente em cerca de 10.000 produtos e em mais de 80 categorias de produtos. 

Como já explicado na postagem "TI Verde: um pouco de história" (https://tiverdeifs.blogspot.com/2020/01/ti-verde-um-pouco-de-historia.html), o selo Energy Star foi o berço da TI Verde. Criado em 1992 pela Environmental Protection Agency (EPA) dos Estados Unidos, tem como intuito principal difundir informações objetivas para os consumidores sobre os aparelhos elétricos e eletrônicos (em especial computadores, monitores e outros equipamentos de Tecnologia da Informação) que gastam menos energia. É um dos selos de maior destaque no mundo no que diz respeito à economia de energia em equipamentos à base de eletricidade. 



Já em 1993, o Selo Procel de Economia de Energia ou simplesmente Selo Procel, foi instituído por Decreto Presidencial no dia 8 de dezembro daquele ano. Criado pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, o selo tem como finalidade ser uma ferramenta simples e eficiente no que diz respeito à informar o consumidor sobre os equipamentos elétricos e eletrônicos disponíveis no mercado que são mais eficientes em termos de gasto de energia. Desde sua criação, várias parcerias foram estabelecidas com o Inmetro, associações de fabricantes, pesquisadores acadêmicos, laboratórios e outras pessoas e entidades com o objetivo de estimular cada vez mais a fabricação de equipamentos energeticamente eficientes, contribuindo com a redução efetiva do gasto de energia elétrica. Os equipamentos postulantes ao selo devem ser submetidos a testes em laboratórios indicados pela Eletrobrás e apenas aqueles que atingem um índice mínimo indicado para sua eficiência, são contemplados com o selo. 

A certificação TCO é o selo de sustentabilidade mais abrangente do mundo para produtos de TI. O amplo conjunto de critérios de ciclo de vida do produto, juntamente com a verificação independente, ajuda a aumentar a responsabilidade ambiental e social em onze categorias de produtos, incluindo computadores, monitores, notebooks, tablets, smartphones, desktops, impressoras, datashows, fones de ouvido, equipamentos de rede, datacenters e outros materiais de Tecnologia da Informação. Quando criado em 1992, o TCO incluía em seu escopo a busca pela eficiência energética dos monitores de computador, porém, seu crescimento fez com que seu horizonte de ações ampliasse para áreas como: análise de substâncias perigosas, ergonomia e fabricação socialmente responsável. A cada  três anos o TCO revê seus critérios de sustentabilidade ambiental e social.

O selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é uma certificação para prédios verdes concebida e concedida pela United States Green Building Council. Seu intuito é incentivar práticas de construções sustentáveis, de modo a satisfazer uma série de critérios verdes na construção de estabelecimentos. Dentre esses critérios, é possível citar o uso eficiente de energia elétrica, a utilização ambientalmente saudável dos equipamentos tecnológicos e seu descarte devidamente correto. De 167 países detentores do selo, o Brasil é o com maior número de edificações certificadas pelo LEED.



O Forest Stewardship Council (FSC) é uma organização independente, sem fins lucrativos, criada em 1993 com o objetivo de garantir a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável das florestas em todo o globo. No Brasil, o FSC foi iniciado em 2001 para assegurar a certificação de empresas brasileiras que porventura trabalhassem direta ou indiretamente com o manejo de árvores. Portanto, quaisquer produtos que sejam fruto de substratos arbóreos são passíveis de requerer o selo FSC. Para a TI Verde, interessa sobretudo o uso de papeis com este selo ou selos semelhantes. A utilização de papeis com essa certificação indica que: 1) o usuário não contribui com a devastação de matas virgens; 2) valoriza-se produtos provenientes de matéria-prima extraída de modo responsável; 3) o consumidor coopera na salvaguarda dos direitos dos trabalhadores e de populações que vivem dos recursos naturais oferecidos pelas florestas; 4) para o empresário, sua organização acaba sendo reconhecida internacionalmente pela sustentabilidade


Criado em 1992 e reconhecido em toda a Europa bem como em diversas partes do mundo, o Ecolabel ou Rótulo Ecológico da União Europeia é um selo de excelência ambiental concedido a produtos e serviços que cumprem altos padrões ambientais ao longo de seu ciclo de vida: desde a extração de matéria-prima até a produção, distribuição e descarte do equipamento. O Rótulo Ecológico da União Europeia promove a economia circular, incentivando produtores a gerar menos resíduos sólidos e dióxido de carbono durante o processo de fabricação. Os critérios do Ecolabel também estimulam as empresas a desenvolver produtos duráveis, fáceis de reparar e reciclar. Esses critérios demandam diretrizes exigentes para empresas que buscam reduzir seu impacto ambiental e garantir a eficiência de suas ações ambientais por meio de controles de terceiros. Além disso, muitas empresas recorrem aos critérios do Ecolabel para obter orientações sobre as melhores práticas ecológicas ao desenvolver suas linhas de produção.

No final de 2018, o Brasil ganhou seu primeiro selo verde para o descarte correto de lixo eletrônico. A start-up Tech Trash, em parceria com a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro/RJ), foi a responsável por lançar o primeiro selo verde brasileiro focado no REEE. Com o objetivo concreto de contribuir com o avanço da sustentabilidade no ambiente empresarial, o selo verde vem para atender a demanda cada vez mais crescente das exigências do mercado no que diz respeito à logística reversa e ao gerenciamento dos resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos. O selo certificará empresas que possuam boas práticas ambientais e produtos que foram construídos atendendo aos preceitos da economia circular e da logística reversa. Também está no projeto a destinação de equipamentos descartados para ONGs e Cooperativas certificadas, de modo a fortalecer a inclusão social

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REFERÊNCIAS
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GIANELLI, Á. Práticas sustentáveis em TI Verde no Instituto Federal de São Paulo: limites e possibilidades. São João da Boa Vista, f. 99, 2016. Dissertação (Mestrado em Educação, Ambiente e Sociedade) – CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO, 2016. 

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SANTOS, L.C.P. Resíduo eletrônico: perspectiva ambiental das ações na formação profissional no Instituto Federal de Sergipe. São Cristóvão, f. 139, 2016. Tese (Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente) - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, 2016.

SCHWANKE, C. Ambiente: tecnologias. Porto Alegre: Editora Bookman, 2013. 257p.